Uma Tarde Para Esquecer os Problemas

VEIO DAQUI

Lionel cantarolava no caminho para o resort, feliz da vida de poder esquecer aquela maldita reunião e poder apenas relaxar enquanto bebia e comia camarões. Uma tarde inteira olhando o mar e tomando aquele sol delicioso de primavera.

Ele já estava com planos de continuar por ali mesmo antes de chegar na casa de Sarah, então já havia vindo preparado. Trouxe uma pequena bolsa com protetor solar, óculos e algumas roupas para poder aproveitar o máximo ao lado dos irmãos Bishop.

No caminho ligou para o lugar, passando as informações que necessitavam. Reserva sem antecedência era mais caro? E tem alguém perguntando de dinheiro? Lionel fazia questão de garantir que pagaria o suficiente por um atendimento mais que exclusivo e que tudo o que ele e seus convidados pedissem apenas fosse debitado do seu cartão de crédito. Sem assinaturas e nem indagações. Alguém queria comer um burrito e o resort não servia? Boa sorte em encontrar um senhor gerente. (Por favor, ninguém peça burrito.)

Chegou ao hotel onde o manobrista já o esperava com um largo sorriso. Lionel também sorria ao sentir aquele ar delicioso que vinha do mar. Entregou a chave para o rapaz e seguiu para a recepção, onde todos pareciam extremamente solícitos.

- Meus amigos, Hanna e Ethan, devem estar chegando logo. Eu vou me trocar, mas já pudem levar para a piscina três margaritas e alguns camarões. E como eu solicitei, nós estamos vindo para relaxar hoje, então seria interessante um lugar mais reservado. – Ele fazia menção a sair mas logo voltava. – Eu disse reservado e não escondido viu! Não quero ficar no canto norte perto dos banheiros ou sei lá o que...

Lionel falava e, após passar os dados para os pagamentos, saía para trocar de roupas.

Protetor solar passado, roupa trocada. Entregava a bolsa para qualquer atendente que encontrasse para que fosse guardada. Consigo levava apenas o celular e uma toalha. Vestia uma regata listrada e um shorts rosa com um padrão de estampar. No rosto um óculos de armação azul.

Foi encaminhado até o lugar reservado para ele. Bem em frente ao mar e a piscina. É, as pessoas daquele lugar faziam um bom trabalho, ele tinha que concordar. Tirou a regata e a toalha e deixou sobre a mesa ao lado das espreguiçadeiras e se deitou de bruços, aguardando os outros chegarem.

Ethan e Hanna seriam encaminhados até o local onde Lionel estava e, assim que entrassem na área da piscina, veriam o rapaz de bunda empinada, tomando sol. As margaritas chegariam logo depois deles.

ROUPA

(VEIO DAQUI)

Entrava na pickup e nem ligava o som. Eu precisava de toda atenção e foco do mundo pra chegar ilesa no resort de forma rápida e segura. Sabia que as últimas taças de vinho ainda não tinham sido totalmente absorvidas pelo meu corpo e quando isso acontecesse já queria estar de biquíni na beira da piscina. Conectava o celular no painel para ir acompanhando o GPS e podia ouvir e ver uma nova notificação surgindo, provavelmente do grupo criado com todos. Dava um sorriso já imaginando o fácil acesso aos números de todo mundo no almoço. Isso facilitaria bastante as coisas.

Chegava na portaria do local, já estava pegando a carteira na mochila quando era informada que a entrada já estava liberada. Não tinha visto se Ethan tinha passado por mim no trânsito então Lionel talvez? Longe de mim reclamar. Descia na recepção e tudo estava realmente arranjado. Funcionários mais do que solícitos e eu tinha um sorriso que não saía dos lábios. Que saudade de um bom tratamento. Era educada com todos e ao ver a lojinha com os biquínis da última estação não resistia. Eu precisava dar um up no visual e começaria por ali, nada de um biquíni qualquer. Queria um biquíni digno do meu sobrenome.

Eu não demorava muito na escolha, ainda mais com funcionários ajudando no tamanho certo e em tudo que valorizasse meu corpo e afins. Já saía de lá com um belo biquíni La Perla, discreto com pequenos espaços de transparência, uma saída de praia longa de renda finíssima com estampa geométrica em preto e branco e uma flat Swarovski. Passava o cartão sem nem olhar o valor total, eu merecia um mimo certo? Quase nunca me dava luxos assim, mas estava na hora de mudar algumas coisas.

A mudança era rápida, entregava a mochila para ser guardada, ficando apenas com o celular e o protetor solar e então era guiada pelo funcionário até a área onde Lionel já estava. - Te devo um almoço e um belo abraço por esse lugar. - Falava para ele enquanto me sentava na ponta da espreguiçadeira, seria rápido eu juro. Olhava o celular para ver que notificação tinha sido aquele e digitava algo rápido.

(Biquini)
(Sandália)
(Saída de praia)

(VEIO DAQUI)

Assim que entrava no carro já colocava o celular no painel, gps, tudo ok e música. No momento Dream Theater. Algo calmo só durante o pequeno trajeto. No sinal parava pra olhar as notificações do celular e via que o grupo tinha sido criado e já estava sendo utilizado. Ótimo. Todo mundo poderia se beneficiar disso. A situação me preocupava até porque algo tinha assustado Sofia na casa da ZBZ, o que garante que seja lá o que tenha sido não possa voltar e vai saber a intenção... Mas machucar as meninas? Precisava ajudar a resolver isso tudo logo.

Não respondia nenhuma das mensagens e justo quando ia fechar o aplicativo via a mensagem de Hannah chegando no grupo. Erguia as sobrancelhas. Ok. Ela estava realmente tentando melhorar a sociabilidade. Uma buzina me trazia de volta a realidade, erguia a mão me desculpando com o motorista e o olhando pelo retrovisor bem puto. Não demorava pra chegar no resort e tinha a entrada liberada. Ah Lionel... Te agradeceria por esse momento, mas um dia você vai ter que aceitar que te pague algo.

Chegava na recepção e a olhar pro lado via Hannah comprando coisas? Ficava um pouco atrás de qualquer planta que tinha na recepção para deixar ela ir enquanto eu acompanhava com o olhar. Tinha algo errado... Depois me preocuparia com isso, certo? Tava ali pra me distrair. Como não estava preparado precisava ir até a loja e comprar algo também. Era extremamente rápido, só precisava de uma sunga e uma sandália qualquer. Optava por um sungão preto com uma barra branca na cintura e amarração. Mais que suficiente. Me trocava e entregava as coisas pro responsável. Chegava poucos instantes depois de Hannah e já a via sentada na espreguiçadeira de Lionel. Me aproximava dos dois. - Então, maninha... Achei que não tivesse afim de namoro. O que foi aquilo? - Se ela achou que aquela coisa ia passar ilesa estava enganada.

- Olha, Lionel... Um dia você vai ter que me deixar te pagar nem que seja um ótimo almoço, jantar ou café da manhã que seja... - Sentava na espreguiçadeira ao lado de Lionel e pegava o protetor solar de Hannah começando a passar nos braços e peito.

(SUNGA)

O sol não muito forte de primavera era delicioso. Perfeito para só deitar e relaxar enquanto se escuta o barulho das ondas que quebravam a poucos metros. O som de algumas gaivotas ao longe só somava para o ambiente se tornar cada vez mais relaxante.

O rapaz ficou ali deitado de bruços no estofado braço da enorme espreguiçadeira enquanto esperava os amigos chegarem, apenas aproveitando o ambiente perfeito. Sem Paige, Glenn, Riley, ou qualquer um que pudesse incomodar. Claro que era impossível deixar de pensar na ruiva do demônio desaparecida ou na irmã morta de Riley, mas ele fazia o possível para que esses pensamentos passassem pela mente e apenas desaparecessem.

Nathaniel devia estar uma pilha ainda. Lionel até tinha vontade de chamá-lo para lá, para relaxar um pouco. Imaginava que o rapaz nunca tinha nem chegado perto de um lugar daquele, mas chamá-lo implicaria em chamar Paige também, então era melhor manter a paz e o sossego.

Ouviu o celular vibrar e levou o braço preguiçosamente para ver as notificações. Glenn havia criado o tal grupo e Matt já havia postado algo.

Charlie não estava em casa? Alguém tinha alguma dúvida de que ela estaria? Pelo amor, a cada segundo que passa a presidente se afunda cada vez mais. Na certa matou a namorada do Dylan pra poder namorar com ele e conseguir a presidência da ZBZ. Isso inclusive era uma coisa a ser investigada, afinal, como os dois tinham chego ao poder das melhores fraternidades da melhor universidade do país?

Mas lá estava ele pensando em coisas que tinha prometido não pensar naquela tarde. Deixou o celular de lado e fechou os olhos novamente, aproveitando o sol, quando ouviu alguém se aproximar e reconheceu a voz de Hanna. Olhou para a garota sorrindo enquanto ela sentava na sua espreguiçadeira.

- O abraço eu aceito. – Ele dizia rindo. – E o almoço, você só me deve a companhia. – Ele dizia se virando, pra ficar de frente, sentando. – Hannah, minha família ganhou tanto dinheiro de tantas formas ridículas que o mínimo que eu posso fazer é, de vez em quando, proporcionar boas experiências pra mim e pros meus amigos.

Ele ria enquanto falava e logo ouvia o celular vibrar de novo. Na certa Hannah tinha enviado alguma coisa no grupo. Pegou o celular novamente só pra ter certeza e respondeu qualquer coisa, só pra não pensarem que ele os ignorava. Agora, se não se importam, por favor, não mandem mais mensagens a não ser que seja de extrema importância

Logo via Ethan se aproximar e chegava a baixar o óculos pra admirar aquele deus de sunga preta se aproximando. Meu Deus, aquela tarde poderia ficar melhor? O rapaz já perguntava para Hannah sobre o que havia acontecido na casa de Sarah entre ela e Louis. Lionel sorriu, lambendo os lábios. Claro que ele tinha visto aquele beijo no rosto demorado, mas apenas não lhe pareceu grande coisa. Louis tinha feito algo parecido abraçando Charlie duas noites antes e, na certa, tinha passado o dia anterior comendo a presidente.

- Eu vi aquilo também hem! – Ele ria. – Mas fica esperta com os Moreal, o que a Paige tem de insuportável o irmão dela tem de sedutor... E galinha, pelo que entendi.

Hanna podia ver na voz de Lionel que até ele ficava meio balançado pelo Louis, mas longe dele tentar alguma coisa com o irmão da Paige, imagina só ter que ficar encarando a garota depois, pensando “ela pode ser minha cunhada”... Credo!

Ethan falava então sobre ter que pagar alguma coisa pra ele e Lionel sorria maliciosamente. Muitas outras coisas passavam por sua mente, mas é claro que o bom senso não o deixaria falá-las em voz alta, em vez disso ele só o encarava por alguns segundos.

- Relaxa, eu já falei pra sua irmão: Se eu não puder fazer esse tipo de vez em quando com o dinheiro da minha família, então ele não serve de nada.

Ele tenta desviar o olhar enquanto Ethan passa protetor solar, mas é algo um pouco mais complicado do que parece. Felizmente logo ele consegue. Um garçom jovem, de cabelos negros, se aproxima com uma bandeja e coloca as três margaritas e a porção de camarões numa mesinha próxima deles, e Lionel se inclina para pegar uma delas.

- Espero que não se importem, pedi três para a gente. – Dizia enquando bebia um gole, sentindo a acidez e a refrescância do drink. – Porque depois daquela reunião, tudo o que eu preciso é de algumas dessas e paz e sossego. Até pensei em chamar o Nate, porque ele tava bem estressadinho, mas aí a Paige viria junto e adeus paz e sossego. – Ele ria e então pegava um dos camarões.

Era meu momento de paz então eu não iria pensar naquele caos, não iria sentir medo do troço que assustou a Sofia, não iria pensar em nada a não ser curtir esse belo sol, a bela praia, bela piscina e só. - Consigo entender essa parte e preciso aprender a me dar e proporcionar mais esses momentos. Com certeza valem a pena. - Tirava a saída de praia ficando apenas com o biquíni e começava a passar o protetor solar com calma. Olhava pra Ethan vindo, pra Lionel, pra Ethan, pra Lionel. Quase oferecia um lencinho.

O que eu podia fazer depois daquela coisa toda? O problema de ter um irmão que conhece todos os seus podres e piores fases é não conseguir disfarçar muito a coisa toda então pra que tentar? Olhava pra ele com o questionamento e abria um largo sorriso. - Quem falou em namoro? Eu posso estar só afim de um bom sexo quente e gostoso... - O sorriso alargava ainda mais e então olhava pra Lionel. - Desculpa, Lionel. - Só pelos termos? Talvez. Eu não deveria me comportar desse jeito, mas estávamos só nós três ali certo? Então pronto. - Isso é um grande problema... Avalie só, você pega o Louis e de quebra vem a Paige no pacote. Não obrigada... - Dava de ombros. - Mas nada contra uma pegada sem apego com gosto e vontade... - Se era o álcool ou colocando vontade vontade real pra fora, vai saber.

Se o plano era aliviar o álcool do sangue pra poder dirigir de volta ao campus depois era melhor eu reestruturar a ideia, ficava levemente sem jeito quando o garçom chegava com as bebidas e pensando se ele talvez tinha ouvido o final do que dissera, claro que jamais daria indício disso. Olhava pra o garçom e sorria agradecendo. Pegava o drink e erguia enquanto Lionel já dava um gole eu dava uma risadinha. - É... Vai bebendo sem brindar pra ver o que acontece! - Dava um toquinho com meu drink no dele e só então dava um pequeno gole. - Não sou lá muito supersticiosa, mas é melhor prevenir... - Dava uma risada balançando a cabeça de forma afirmativa e concordando com ele. - Nossa não... O Nate parece... Como dizer isso de forma educada... - Gesticulava como se procurasse as palavras. - Gostoso pra caramba, mas com um problemão a tiracolo.

Claro que eu percebia o olhar de Lionel em Ethan enquanto ele passava protetor solar, não te culpo... Meu irmão sabia manter a forma e isso me lembrava do que tinha prometido. - Mas tudo o que eu quero agora é acabar esse drink e ir pegar meu solzinho em paz... - Dava uma piscadela pra Lionel, sim eu só tomaria esse drink e logo depois iria dar um passeio por aí. Precisava urgente sentir um pouco a areia entre os dedos e aliviar a tensão com um ótimo mergulho.

Olhava pra Hannah e Lionel conversando de longe enquanto ia me aproximando, aquela amizade ali seria muito perigosa pro meu juízo. Não conseguia conter a risadinha sutil enquanto me aproximava e já sentado ouvia aquelas afirmações de Hannah. - Senhoras e senhores, minha irmãnzinha mais nova... - Não conseguia deixar de rir daquela situação toda, mas podia sentir que algo incomodava a descabeçada. Lionel avisava sobre os Moreal e ok, precisaria me inteirar mais disso. Longe de mim interferir ou influenciar, mas era bom prevenir algumas coisas. Pegada com gosto e vontade? Mas o que diabos tava acontecendo ali? Olhava pra ela com as sobrancelhas erguidas, mas me ocupava em passar protetor solar sem prestar muita atenção visual ao meu redor, mas ouvia atentamente o que falavam.

- Você podia me ajudar a colocar isso na cabeça dela. Se deixar essa guria só veste coisa de brechó e não vai num canto desse se eu não arrastar. - Fitava Lionel por breves instantes, olhos azuis e penetrantes como água cristalina, um dom. Nesse momento as águas estavam calmas e reluzentes. Drinks chegando e lá vai a garota com suas manias. Apenas maneava a cabeça de forma negativa e dava um pequeno gole. - Isso tá... Ótimo. - Mais um gole e por fim olhava de um pro outro. - Ele parece um cara bem responsa, sabe? Bom moço e tal...

Mais um golinho? Claro... Tínhamos a tarde toda pela frente e nunca fui muito de pegar pesado com a bebida, provavelmente pela baixa tolerância e pelo visto teria que dar um jeito de levar a Hannah pra casa se ela continuar bebendo assim. Melhor ficar de olho. Percebia a piscada dela e apontava alternadamente entre os dois. - Eiiii... Essa cumplicidade de vocês aí? Tô de olho viu... - Já caía na risada. - Mas me conta, Lionel... O que te trouxe pra esse caos todo? - E dito isso inclinava o corpo pra trás, apoiando sobre os cotovelos e apenas aproveitando a sensação do sol me aquecendo. O mundo podia estar caindo fora desses portões, mas eu me recusava a estragar um bom momento pensando sobre desaparecimentos e afins.

Pelo menos nesse instante eu aproveitaria com toda a paz que pudesse ser proporcionada. Quando voltasse começaria a pensar nas coisas e analisar, ok? Mas tinha algo que podia causar mal a tanta gente e será que tinha tempo a perder? Ok. Chega. Não era perda, apenas investimento na sanidade mental. Conversaria apenas amenidades em boa companhia.

- Ai, sim... Dinheiro foi feito pra se gastar. – Ele ria enquanto falava com Hannah. – E se você pode, por que não gastar um pouco mais com mimos e bom atendimento pra si mesmo?

Ethan chegava enquanto eles conversavam e, embora Lionel ainda desse atenção a garota, não conseguia deixar de olhar, vez ou outra para o rapaz. Ainda bem que os óculos escuros serviam seu propósito principal, que era olhar discretamente para as pessoas sem ser percebido.

Ele falava sobre Louis e Lionel completava. Estava sendo exagerado ao falar de Louis? Talvez... Seria uma pequena parcela de inveja das garotas? Talvez... Felizmente o rapaz tinha a irmã que fazia com que qualquer um desistisse facilmente de qualquer coisa com ele. Hanna respondia e logo pedia desculpas. Lionel ria.

- Nada, nem precisa se desculpas. Eu entendo perfeitamente esse tipo de intenção e apoio totalmente. – Ele falava gesticulando. - Infelizmente em Dux as meninas estão bem melhor servidas do que pessoas como eu... Saudade inclusive.

Lionel respondia que sobre o dinheiro e ele pedia ajuda com a irmã.

- O que isso Hannah? Brechó? Você tem um corpo digno das melhores modelos do mundo, tem que valorizar tudo isso. – Falava gesticulando para as curvas da moça. – A gente tem que sair um dia pra fazer compras. E depois uma balada, pra podermos ver e sermos vistos.

Hannah continuava falando e Ethan também falava sobre Louis. Lionel confirmava com a cabeça.

- Louis é um cara legal. Muito charmoso e tem um ótimo gosto pra roupas e tudo mais. Mas imagine só, nem dez dele compensariam uma Paige. Não sei como o Nate foi acabar com ela. - Hanna continuava e ele respondia. – Acho que o conceito do pegue e não se apegue ainda não é bem difundido nessa parte do país.

As bebidas chegavam e ele já estava com o copo na boca quando ouvia a garota e só devolvia a bebida no copo por educação. Ela, felizmente brindava com ele de qualquer forma e então ele terminava o gole.

- Deus me livre, bate na madeira. – Dava três batidinhas na madeira da mesa ao lado. – Do jeito que anda minha vida, esse tipo de coisa é o que eu menos preciso.

A conversa se desenrolava em um clima agradável e ele pensava ter acertado nas companhias daquela tarde.

- Nem me fale, o Nate é. Sei lá, deve mexer com qualquer um. Você não sabe como é acordar e ver ele perambulando pelo quarto só de cueca. Mas sinceramente, acho que ele foi o mais afetado de toda essa loucura, afinal, entrou na floresta solteiro e saiu namorando a Paige!

Lionel pegava um camarão e comia. Estava com fome, mas não iria muito além daquilo, afinal, sua dieta estava totalmente desregulada nos últimos dias e logo teria de voltar a academia. O que seu personal diria ao saber das massas, sobremesas e pizzas dos últimos dias?

- Sim, está certíssima. Eu também vim pra cá pra poder aproveitar e me distâncias daquela loucura. Só fico preocupado com a Sofia... Mas acho que ela precisa de um tempo sozinha. Mais tarde eu dou uma passada na ZBZ pra ver como ela está.

Ethan já perguntava sobre a cumplicidade. Lionel ria.

- Olha seu irmão com ciúmes. – ele falava pra Hannah, mas logo voltava-se para o rapaz. – Mulheres e seus amigos gays tem seus segredos Ethan, você tem que se acostumar com isso.

O rapaz se deitava e... Nossa, todo aquele homem esticado ali do lado. Mais uma vez Lionel se pegava olhando descaradamente para o outro e se forçava a olhar para o drink. Esperava que os óculos escuros ainda estivessem fazendo seu trabalho.

- Eu? Ah, o de sempre. Minha família toda se formou em Dux. É meio que uma tradição, aí só precisei escolher medicina ou direito. Não que eu goste das áreas, mas era isso ou não estaria aqui, curtindo com vocês hoje, porque seria deserdado. – Ele ria, mas dava pra ver um fundo de decepção. – Enfim, quando me formar, provavelmente vou trabalhar com meu irmão nos escritórios de Nova Iorque ou fazer alguma coisa com meu pai em Londres. – Ele suspirava por alguns segundos. – Claro que se eu soubesse que teria tanta coisa louca acontecendo por aqui eu teria insistido pra ir pra outra universidade.

Lionel bebia mais um gole da margarita e parecia divagar um pouco sobre o que falara, mas logo voltava a si.

- E vocês? O que os trouxe ao hospício que chamam de Dux? – Ele ria. – E você Ethan, casado? Que loucura né, nem imagino como é isso... Se bem que ao contrário do Louis, você tem uma irmã maravilhosa... Acho que eu também casaria com você se conhecesse a Hannah antes.

Dizia abaixando o óculos e sorrindo para a garota. Cumplicidade ali Ethan, só aceita.

- Vou tentar me lembrar disso! Mas é meio complicada a coisa toda... - Dava de ombros, tinha muita coisa ali por trás, mas na verdade só não me sentia a vontade gastando um dinheiro que eu não achava ser meu. Mas aí já era papo pra terapia.

- Por isso que eu gosto de um cardápio variado... Sempre bem servida onde quer que esteja! - A risada era gostosa e livre de represálias. Era desnecessário Ethan insistir nessa coisa de dinheiro e eu apenas dava língua pra ele como se ainda fossemos crianças. - Ok ok, talvez uma boa tarde de compras e uma boa noite na balada seja perfeito! - Será que a essa altura a orelha de Louis já estava queimando? - Eu só tive dois encontros com ela e foi suficiente pra querer abrir um buraco no chão, me enfiar e nunca mais sair. Tá louco, mas ainda assim Louis merece um trato daqueles... Pense numa boca de fazer ajoelhar... - Comia um camarão e mais alguns goles. Mais um camarão e goles. Tudo certo e equilibrado, mas o riso já estava pra lá de solto.

- Eu nunca fui muito boa nisso de pegar e não se apegar, mas tô começando uma nova fase. Só me lasco mesmo, agora vou mais é aproveitar! - Olhava as batidinhas na madeira e mais risos e risos. - Olha acho que você só precisa de um up nessas amizades...  Umas baladas... Uma festinhas... Eu num sou lá muito de sociais cheias de gente, mas me deixa numa pista de dança que dou aula. - Ousava umas reboladas bobas sentada apenas pra enfatizar o que eu dizia.

Segurava a mão de Lionel e o olhava tentando manter o rosto com a expressão mais séria possível. - Eu posso te afirmar agora que nunca, jamais, senti tanta inveja quanto nesse momento... Acordar e dar de cara com aquilo tudo desfilando de cueca? Minha nossa... - Uma risadinha e soltava a mão dele enquanto fingia me abanar. - As vezes me pergunto se a Paige tem um lado... Sei lá... Humano. Sabe tipo cebola e as camadas... Esse papo todo. - Dava de ombros. Não tinha tanta importância afinal. - A Sofia estava bem assustada ontem a noite... Vou tentar ficar de olho nela e nas coisas por lá.

Era difícil não se divertir naquele momento. As preocupações de lado, brincadeiras e piadas. - É melhor ele ir se acostumando porque a tendência é isso aqui... - Apontava pra mim mesma e Lionel algumas vezes. - Vai continuar por muito tempo. - Ethan deitava já se acomodando e eu via Lionel dando aquela secada. Esperava até ele terminar de falar sobre a cumplicidade e dava uma piscada. - Exatamente! - Não esperava muito pra virar o restante do drink de uma vez. Foda-se como ia voltar pra universidade. Não era hora de pensar nisso. - Eeeeessa é a minha deixa... Prometi um drink e agora se me dão licença... - Ficava de pé deixando o celular e a saída de praia ao lado. - A garota aqui precisa de uns mergulhos e num tô afim de falar do casamento do meu irmão. - Ajustava o biquíni e já ia saindo com calma na direção da escada para acessar a área da praia em segurança.

- Lioneeel... Não dá corda pra isso... - Eu falava tentando manter a expressão séria, fracassando e logo começando a rir ainda mais com Hannah dando língua daquele jeito. - Nada de apoiar esse tipo de intenção... Minha irmãzinha tem que ir pro colégio de freira e ficar lá... Se bem que ela ia acabar catando as freiras todas também... - Acho que a coisa toda vai sair pela culatra. - Ok... Mas eu vou nessa balada aí de vocês. Só avisando! Mostrar meus dotes no pole dance!

Se era piada ou não Lionel teria que descobrir depois, por enquanto eu apenas caía na risada acompanhando a conversa deles. - A Paige é até gostosa, mas entre ela com a personalidade que tem e o irmão com... Bem... A personalidade que tem, acho que o Louis é mais fácil de lidar. E se controla irmãzinha que fogo repentino é esse? - E dizia isso de Louis baseado no que Lionel falava e do pouco que pude observar durante o almoço. Era um cara focado e inteligente, além de um gato. Era uma combinação perigosa.

- Eu ainda não tive essa visão. Parece que a maioria usa pijamas incríveis e eu nem pra dormir de samba-canção tive coragem. Ia parecer desarrumado. - Lionel mencionava Sofia, Hannah lembrava da noite anterior e eu acabava tomando tento de alguma coisa. Puxava o celular e digitava rapidamente para depois deixá-lo sobre a mesinha. Qualquer outro problema teria que esperar.

- Tô começando a ficar com ciúmes dessa coisa toda aí mesmo... Vocês dois são bem capazes de aprontar demais! - Ouvia tudo o que Lionel dizia e claro que percebia o fundinho de decepção e todo o resto, estava prestando atenção e era difícil passar despercebido. Abria a boca pra responder e minha irmã dava cabo do drink de uma vez. A certeza de que eu teria que levar ela pra casa tava evidente. Só podia olhar enquanto ela se afastava pra praia que no fim nem era tão longe assim, então meu foco voltava a ser Lionel.

- Consigo entender, medicina não foi exatamente minha opção, mas já era da família e tem os negócios e todo esse blá blá blá, então cá estamos. Pelo menos temos algumas vantagens no meio disso. - Sorria de canto e erguia o copo em um brinde a ótima tarde, aproveitava pra comer um pouco também. - Eu achei que aqui seria mais seguro pra Hannah e acabei trazendo ela pra mais problemas... - Percebia que acabava soltando algo que não deveria então tentava disfarçar e remendar a situação aproveitando a deixa do casamento. - É pois é... Agora que a Hannah saiu e não vou ouvir um "eu bem que te avisei" posso falar que... Minha nossa. É um caos total... Foi algo de impulso acelerado pela necessidade de ajudar o Miguel com algumas coisas, mas... Enfim... Ele tá cada vez mais distante e agora que vim pro outro lado do país não ajuda, mas o que podia fazer? Tinha que ajudar a família...

-Ah, por favor né... A Hannah aqui nasceu pra fazer sucesso, não tem porque você querer esconder ela do mundo. – Piscava para a garota enquanto falava. Logo mudava de assunto e iam para as compras.

- Uma tarde de compras é sempre bem vinda, não importa quem você seja. É tipo terapia, só que as terapeutas sempre vão dizer que você está ótima nessa roupa. – Ele ria enquanto falava. Já estava com saudades desse tipo de papo furado, sem a necessidade de se justificar e ficar implorando notícias sobre coisas sérias. – Eu preciso de uma festa o mais rápido possível. Não aguento mais ficar só indo nessas reuniões chatas. A festa dos calouros que devia ter sido o ápice da minha chegada em Dux acabou virando aquela loucura na floresta.  E claro que você pode vir junto Ethan, nas compras inclusive. Sempre precisamos de alguém pra carregar as compras e trazer o carro no final... Se bem que... – Ele fazia uma pausa e encarava o rapaz. – Você no pole dance é uma coisa que eu gostaria de ver.

Ele ria despreocupadamente. O clima parecia ótimo e não dava vontade de sair dalí. A brisa leve, o sol quentinho, o céu quase sem nuvens, as ondas quebrando na praia, Duxhill bem longe. Tudo ornava para um dia perfeito.

-Ouça sua irmã Ethan. Paige pode ser bonita, mas não compensa todos os outros defeitos. Sou bem mais o Louis... Alías, bem mais o Nate, no caso.

Hanna falava sobre pegar e Lionel completava.

-Ah, eu nunca fui de pegar muita gente também. Em Londres, com meus pais, as coisas eram um pouco complicadas. Você já deve imaginar porquê, né?- Ele falava quanto apontava para si mesmo. – Mas eu decidi que assim que chegasse aqui as coisas seriam diferentes. Se eles quisessem que eu fizesse direito, eu faria tranquilamente, mas seria do jeito que eu quisesse.

Lionel acenava para o garçom fazendo sinal para que lhe trouxesse mais um drink antes mesmo daquele acabar. Então sentiu Hannah pegar sua mão. Ele sorria pra ela.

-Sinta inveja mesmo menina. É uma das poucas coisas boas de se acordar numa casa cheia de homens. De manhazinha eu acordo cedo só pra ir pra cozinha e tomar meu café lentamente enquanto eles vão passeando pela casa de shorts. – O outro drink chegava e ele virava o resto do que estava em sua mão para poder pegá-lo. – E pode ter certeza que você vai ver Ethan, ele não costuma usar muita roupa. E sobre os pijamas... É que o Glenn capotou ontem com a roupa que estava no corpo, porque senão você veria o pijama que ele escolheu pra trazer pra cá.

Ria maliciosamente ao lembrar do rapaz no primeiro dia circulando pela casa com seu pijama estampado de Scooby-Doo.

Hannah falava sobre Paige e Sofia. Lionel consentia.

- Sei lá... Talvez o Nate tenha achado alguma coisa nela que ninguém mais vê.- Ele dava um gole e então falava de Sofia. – É... Ela me mandou mensagem ontem, mas não achei que fosse tão sério. Eu me preocupo com ela... A gente acabou ficando próximo nos últimos dias.

Dava pra notar que, por mais venenoso que Lionel fosse ao falar dos colegas, ele ainda tinha alguma coisa lá dentro que fazia com que ele se importasse com quem realmente gostava. Nesse caso Sofia. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, mas logo voltaram a conversar normalmente.

Hannah falava sobre a cumplicidade dos dois e ele apenas concordava com a cabeça. Já era Ethan, ia ter que se acostumar com Lionel levando sua irmã para o mau caminho.

- E não é esse o objetivo da faculdade? Aprontar antes da vida adulta? – Ele ria e então Ethan perguntava sobre Lionel.

Ele falava e Hannah levantava, dizendo que era hora dela sair. Lionel corou na hora. Não imaginava que a garota estava falando tão literalmente quando disse que não ia ficar no caminho dele.

Ethan fazia um brinde e Lionel o acompanhava, ouvindo com atenção o que o outro falava.

- É... Acho que você não foi muito feliz na sua escolha de se afastar de problemas.

O rapaz continuava falando e então Lionel era pego de surpresa. Miguel? Não pode deixar de virar o rosto para ele nessa hora. Como assim? Tudo bem que Ethan nunca pareceu o estereótipo do hetero, mas ele era casado com um cara? Isso ia muito além de qualquer coisa que Lionel já pudera imaginar.

Lionel tentou disfarçar o máximo que pode, mas estava num misto de surpresa e inveja que era quase difícil de se conter. Inveja do que? De não ser o Miguel, pra estar casado com o Ethan; de não ser o Ethan, pra poder estar casado com um cara; de não ser a Hannah, pra poder falar “Eu te avisei”...

Será que lá no fundo Lionel só queria um amorzinho? Claro que não, de onde poderíamos tirar isso, ele estava ali para curtir e era isso que iria fazer.

- Hannah não vai muito com a cara dele? – Ele perguntou sorrindo e depois de uma pausa continuou. –Como ele é? Como vocês se conheceram? – Mais uma pausinha. – E ele não quis vir pra cá também?

Lionel parecia uma metralhadora de perguntas. Mas sim, nem escondia o tamanho interesse que criara naquele relacionamento.

O celular vibrava e, embora tivesse prestando atenção em Ethan, dava uma olhada rápida. Poxa Sofia, que timing! Respondia rapidamente a garota e já guardava o celular novamente.

Não tinha porque discordar de toda a situação das compras e da balada. Ansiava por isso, estava precisando disso na verdade. Minha cabeça tava dando um nó atrás do outro, pensando em cinquenta mil coisas e tentando encontrar razões no meio disso tudo. Algo impossível ainda comigo adicionando mais caos nisso tudo. - Então está combinado. Compras, balada e depois bolamos alguma festa porque sim. - Olhava pra Lionel concordando com o pole dance... eu ria. A cena era digna de muita risada. Ainda lembrava do irmão se amostrando naquele mastro.

- Paige, Nate e Louis. O clássico "beija, casa ou mata". Aparentemente concordamos com os três casos, né, Lionel? - Uma gargalhada que logo parava voltando a prestar atenção na coisa toda. Mais um drink? Minha nossa. Eu já sentia a pele do rosto formigar e as mãos aquecerem. - Que seja então do jeito que você quiser e no que der, sou toda ouvidos e ajudas! - Erguia o drink sorrindo. Rindo e sorrindo. Eita riso solto danado. - Precisa ver os pijamas do Ethan, geralmente ele dorme de samba-canção ou cueca... ou nada, mas dei uns pijamas legais pra ele. Desconfio que não trouxe nenhum, né? - Olhava pra Ethan ameaçadoramente com um total de 0 efeito de ameaça ainda mais depois do meu irmãozinho assumir o ciúmes, mesmo que não fosse tão real assim. - Você está certíssimo, maninho. Somos mesmo!

Um olhar complacente levemente desfocado pra Lionel quando falava de não saber sobre a situação da Sofia. - Não tinha como saber mesmo, foi tudo uma loucura. - Achava que ia ser uma ida tranquila pra universidade, ser a boa nerd que sou, mas os objetivos com certeza eram outros e Lionel os expunha. - Se esse é o objetivo eu tô indo no caminho certo! - Drink pra dentro, de pé ou pelo menos parecia estar. Promessa era dívida Lionel e eu prometi ficar fora do caminho então aproveite os momentos. Os pés levemente formigando também, corpo todo formigando, eita desgraça. Como é que andava mesmo? Ok só precisava de uma descida segura pra praia. Não era tão difícil assim, tudo ali era extremamente organizado e arrumado. Andava com calma, sem pressa, descia as escadas e era impossível conter o sorriso quando os pés tocavam a areia. Ficava de pé uns instantes mexendo os dedos e aproveitando a sensação. Andava até a praia notando as mudanças de temperatura, o vento no cabelo, o sol ajudando a manter tudo perfeito. E a saudade de casa? Enorme.

Não fazia ideia do porquê de Ethan ter me arrastado pra cá, aquele papo todo de melhor faculdade não tinha colado. Pra que cruzar o país? Que diabos tava acontecendo? Ainda mais aquele inferno todo e todo aquele caos e caos e caos por todos os lados. Era trazida de volta a realidade pelas ondas batendo nos pés. Entrava só até a altura dos joelhos a princípio. Aproveitava bem a sensação das ondas batendo e subindo, os respingos, o cheiro do mar. Avançava mais um pouco até a água cobrir as coxas. Passava as mãos nas ondas, acompanhava o movimento delas e então dava um mergulho. Apreciava o silêncio que era estar ali, a tranquilidade e ficava até os pulmões suplicarem por ar. Levantava rindo e ficaria ali alguns minutos deixando Lionel e Ethan conversarem em paz.

A mas eu tava arranjado demais com esses dois TheMônios na minha vida. Ainda mais se juntando pra tramar seja lá o que for. Aquelas trocas de olhares... Era bom ficar esperto. Era divertido de ver minha querida irmã conversando e interagindo, por mais que fosse culpa do álcool ela estar tão solta assim. Falava apenas o necessário no meio da conversa deles, ela merecia essa pausa e uma folga. A coisa toda ainda ia ficar muito pior quando ela descobrisse todos os motivos de estarmos ali. Sentia que quanto mais demorasse pra falar pra ela, pior seria, mas como se falava isso? Lionel me tirava do meio devaneio e sorria encarando-o de volta. - Olha... Admito que sou expert no pole dance!- Claro que o que eu me lembrava regado a álcool parecia incrível, se era mesmo ou não deixaria pra eles decidirem.

- Acho que vamos tomar muitos cafés da manhã juntos assim, Lionel. Podemos começar a montar um ranking de melhores trajes, melhores despenteados... - Dava um pequeno gole no copo já no fim, mas claro que alguém como Lionel não deixaria os copos secarem e já pedia mais. Hannah desgracenta saía com a cara mais lisa do mundo pra ir pra praia. A tá certo que eu ia engolir essa, olhava pra Lionel e é... Talvez eu não estivesse achando tão ruim. A companhia do rapaz era boa e agradável.

- Mais infeliz impossível, mas o que mais dizer além disso? Agora é tentar resolver essa merda toda... E nem tô falando dessa merda toda daqui, a gente já veio com merda na bagagem... - Uma risada curta e com zero empolgação era o máximo que conseguia pra expor a ironia de tudo aquilo, mas aquela virada de rosto quase me engasgou com a bebida. - Surpreso com isso? - Eu ficava de pé pra conferir se Hannah estava bem lá na praia, apenas de olho. Álcool e praia costumam ser péssimas combinações então era melhor prevenir que ela fosse afoita demais, porque tinha deixado os óculos na bolsa mesmo? - Ela não diz que detesta o cara, mas sinto que não é menos que isso. Diz que tem algo errado com ele, mas não sabe o que. - Dava de ombros e continuava respondendo todas as perguntas sem se importar.

- Ele é... - Me inclinava pra pegar o celular, mexia um pouco e mostrava pra você uma foto. - Esse é ele... Nos conhecemos numa festa que eu estava discutindo alguns projetos novos com uns parceiros que eu discursei. Depois ele veio me parabenizar pelo discurso, um drink, dois e continuamos nos vendo... - Quando olhava o celular de novo podia ver uma notificação de mensagem e respondia rapidamente. Esperava que ele terminasse de mexer no celular para continuar. - Então depois de alguns meses ele tava com alguns problemas pra permanecer aqui com o visto de trabalho e lançou a ideia de nos casarmos, como tudo parecia bem... E era só antecipar o inevitável. Pronto. Casamos. - Terminava o primeiro drink agora e estava de bom tamanho por enquanto. - A família nunca se importou muito com nossos relacionamentos, são bem abertos com essa coisa toda e tal e deram apoio a situação. Ele não tinha como vim e largar os negócios... Pelo menos foi o que disse, mas acho que nunca discuti tanto com uma pessoa quanto com ele. - Então me dava conta da coisa toda e balançava a cabeça de forma negativa. - Desculpa... Tô aqui chorando as pitangas!

(FOTO DO MIGUEL)

- É... com certeza concordamos. – O rapaz falava como se estivesse imaginando a situação. – Na certa se eu casasse com o Nate nem precisaria matar a Paige, ela já tinha um infarto. – Ele gargalhava maldosamente.

Ethan falava sobre tomarem café juntos e ele arqueava as sobrancelhas.

- Olha... Te garanto que não é muito fácil classificar os Omegas por beleza, é tipo miss universo. Todas são lindas, mas o que importa é a sua habilidade especial. – Ele ria mais uma vez.

A conversa ia se desenrolando de uma forma tão natural que Lionel podia vislumbrar uma grande amizade entre aquelas pessoas. Isso, é claro, se ele não desse um de seus chiliques que tinham feito boa parte dos novos colegas não irem muito com sua cara.

Hannah resolvia que estava na hora de dar um tempo para os dois e ia mergulhar. Ele balançava a cabeça encabulado com a situação, mas fazia possível para não demonstrar isso e apenas seguia conversando com Ethan.

Mas então ele falava o nome do marido e Lionel não conseguia esconder a surpresa e é obvio que Ethan percebia.

-Ah não... É só que... – Ele tentava encontrar palavras mas não vinha nenhum tipo de justificativa. – É só que eu podia jurar que você era casado com uma mulher. Deve ser pelo fato de eu nunca me ver me casando... Minha família surtaria.

Ele ria sem jeito. Com certeza não teria espaço para um relacionamento na vida de Lionel enquanto ele não estivesse com a vida feita e andando com as próprias pernas. E mesmo depois, cansaria de ouvir “Não pega bem para um Kurt” quando resolvesse assumir alguma coisa perto dos pais.

Os pensamentos logo eram dispersados e metralhava Ethan com todas aquelas perguntas, que o rapaz respondia sem problemas. Lionel agora sabia do que realmente tinha inveja.

- Você é bem superprotetor né? – Ele dizia enquanto o rapaz levantava pra ver a Hannah. – Não se preocupe, os salva vidas daqui vão ficar de olho nela. – Então o rapaz falava sobre Hannah não gostar do marido. – AH, se ela for tão ciumenta quanto você, eu já devo imaginar o motivo.

Lionel ria, mas aí ele vinha e lhe mostrava a foto do Miguel. O rapaz chegava a tirar o óculos para ver melhor. O que estava acontecendo ali? Os dois caras mais gatos do país resolveram se casar? É isso mesmo produção? Como é que ele ia competir com tudo aquilo?

- UAU. Ele é muito bonito! – Ethan continuava a contar a história e ele ao conseguia parar de pensar nos dois juntos.

Após responder as mensagens do celular ele fazia uma pausa, quase como se precisasse digerir todas as informações que o rapaz acabara de lhe contar.

- Não ta chorando nada não, é muito fofa a história de como vocês se conheceram. Faz até eu acreditar que um dia vou encontrar alguém. – Ele sorria e bebia mais um gole do drink. – Mas eu entendo você Ethan, devia ser quase um crime você deixar ele ir embora... Mas... Casamento né? Que ruim que vocês tem brigado... Mas sei lá, talvez ele só estivesse com ciúmes de você vir pra cá, a faculdade sabe... Cheio de rapazes... Sei lá... Eu também morreria de ciúmes caso um namorado meu viesse pra um lugar como Dux. Se bem que eu sei que ele não encontraria nada melhor que eu por aqui.

Lionel ria da própria piada enquanto bebia mais um gole do drink. Os goles cada vez maiores e o rosto já bem avermelhado mostravam que ele com certeza não poderia voltar dirigindo hoje.

- Mas vocês dois... Sem mentira... Chega a ser uma tristeza. Os dois caras mais lindos que eu já vi casados... Vou ter que me contentar com o terceiro lugar...

Sim, ele já estava bem alcoolizando, tanto que a partir de agora começava a não medir as palavras e já estava elogiando o rapaz.

- Mas se você não se importa com a pergunta... Você sempre ficou com caras? – Ele encarava o rapaz curioso. – Porque eu sempre soube de mim, mas lá em casa as coisas são meio rígidas... Ah esquece, agora eu to chorando as pitangas. Não precisa responder, acho que to meio bêbado já.

Acho que eu podia ser uma sereia... Eu gosto da água e do mar. Imagina só como seria ser uma sereia... Poder nadar entre os mares, viajar e conhecer criaturas do mar e claro que usar tops incríveis e ter o cabelo super lindo porque claro que eu ia ser uma sereia de desenho da Disney. Um belo top todo de pérolas que eu pediria pras minhas amigas ostras... Mas aí eu não ia poder comer sushi, imagina como que eu ia poder comer os animais se eles falassem comigo! Ia lá morder o cavalo marinho e ouvir "Não não me come... eu tô grávido!". Isso ia ser bem louco, né?

Era bizarra as coisas que uma cabeça cheia de álcool podia pensar, né? E lá estava eu, na praia, com a água a altura do biquíni, abaixada pra água cobrir boa parte do meu corpo, não era doida de ir pro fundo e ali tava mais que suficiente. Olhava pra superfície do mar, as ondas quebrando e além de ser uma sereia outros pensamentos vindo a minha cabeça. Precisava dar rumo as coisas, mas não se toma decisões quando se está deprimido ou bêbado então era melhor esperar esse álcool todo passar pra poder pensar com mais clareza. Quanto tempo será que tinha passado? Será que já podia voltar?

Mas eu não queria voltar, queria virar uma sereia! Queria conversar com as estrelas do mar, mas seria difícil ouvir já que a boca delas fica embaixo, né? Mas eu podia segurar elas e colocar perto do meu ouvido que nem a gente faz com as conchas! E era por pensamentos desse tipo que eu não fumava maconha. Avalie a vibe que ia dar... Será que eu deveria provar cogumelos e vir pra praia? Assim os animais poderiam falar comigo! Imagina que legal seria virar sereia?

E ficava ali mais um tempo, dando brecha pra Lionel e Ethan conversarem em paz, olhando pra água e brincando com os braços quebrando as ondas. Tudo normal, tudo tranquilo. Mais um pouquinho e eu voltaria.

- Mas isso não é problema, podemos criar rankings especiais pra cada um. Melhor tanquinho, melhor combinação de cueca e habilidades especiais... - Fingia cara de pensativo. - Isso pode ser um pouco mais complicado! Acho que o Nate não mostraria suas habilidade especiais pra nós dois! - Risadas, piadas e brincadeiras. Uma tarde digna de aliviar tensões e estreitar laços de amizade.

- Ok, faz sentido... E é compreensível, embora complicado... - Tudo o que eu poderia sentir nesse momento era empatia. Nem conseguia pensar como seria minha vida e de Hannah se nossos pais não nos aceitassem como somos. Só queria falar pra Lionel que ficaria tudo bem e apesar dos pesares teria pessoas legais ao seu lado ou pelo menos eu e uma irmã desmiolada, mas talvez fosse cedo demais pra isso. Erguia as sobrancelhas com o "super protetor", como negar comigo parecendo um suricata olhando Hannah na praia?

- Ela tá bêbada e ainda virou aquele último drink e adivinha só? Ela não sabe nadar direito, mas ama praia. Vai entender... - A coisa do salva-vidas acalmava um pouco, mas não o suficiente pra me fazer sentar, ainda assim minha atenção era sua, as olhadas para a praia eram esporádicas. - Na verdade nem somos ciumentos... Essa coisa toda de ciúme num rola com a gente, nem comigo nem com a Hannah e se o Miguel sentir isso pena pra ele. Já sabia como eu era quando me conheceu... Assim como eu o conheci como é. - Dava de ombros, mas na minha cabeça pairava aquela dúvida, será que o conhecia mesmo?

- Apesar de tudo sou um romântico inveterado, acredito em flores e chocolates. Toalhas combinando, escovas de dentes juntas... - Isso tudo parecia ridículo quando eu externava, mas era a verdade. - E acredito que existem pessoas pra todo mundo. Amores de anos, de meses, de semanas e de apenas uma noite, por que não? - Respirava fundo. - É, mas só de pensar que ele tem opções e prefere ficar lá... Sei lá. Eu não tinha como recusar, precisava cuidar daquele cabeçuda e dar um tempo pros meus pais resolverem as coisas por lá. - E nesse momento eu olhava pra todo o "você". Da cabeça aos pés. - Olha eu concordo com essa afirmação. Você é bonito, bem apessoado e tem uma ótima conversa... Páreo duro a ser superado!

Era difícil não rir um pouco com o "dois caras mais lindos". - Acho melhor ficarmos os três em primeiro? Até porque me falaram que o que vale são as habilidades especiais! - Uma piscadela depois daquilo era o final perfeito pra aquela frase.

- Não não... Não me importo de forma alguma. - Mais uma olhadinha pra praia e tudo certo, voltava a te olhar com calma. - Nem sempre. Eu já fiquei com garotas. Um dia conheci a bela Melissa, ainda no colégio. Ficamos, foi tudo lindo e incrível. Aí no outro mês conheci o Julian e também ficamos e foi tudo lindo. Minha cabeça entrou em parafusos. No fim só aceitei. - Agora tinha chegado a vez de trocar a choradeira de pitangas? Não tinha problema algum. Eu pousava o copo com o drink já vazio na mesinha e chamava o garçom pra pedir uma coca. Alguém ali tinha que ficar sóbrio, certo? - Olha, cara... Pra ser bem sincero eu posso imaginar o que é toda essa rigidez. Tive um medo desgraçado de contar pros meus pais, mas tive uma sorte que nem todos têm e se um dia precisar de apoio, um ombro amigo ou um apoio maior bem... - Usava as duas mãos pra demonstrar meu próprio corpo. - Dizem que sou um bom amigo e dou ótimos conselhos.

Hannah o mar está perfeito, temperatura ideal, e o sol do fim de tarde era magnifico, a forma como ele refletia no mar conferia uma paisagem unica ao local.

Era relaxante, era como se não existissem problemas.

Fazia até mesmo você pensar em ser uma sereia.

Sereias são tão lindas, tão raras?

Será que você algum dia encontraria uma? Ela poderia te levar para o fundo do mar e te transformar em uma sereia.

ou...algo parecido.

A sua distração era tanta, que você quase não percebia que próxima a você havia uma pessoa, mas ela estava com o corpo quase todo embaixo de água, somente parte da cabeça e os olhos davam para ver.

E os olhos, eram únicos, lindos, cada um de uma cor. Um era mel esverdeado, e o outro de um azul que se confundia com o espelho da agua, já viu olhos assim antes?

Os cabelos castanhos estavam molhados e escorridos, e você podia ver duas xuxinhas de estrelas do mar rosa ao alto da cabeça, era uma criança, devia ter uns 10 anos no máximo.

E talvez fosse uma sereia não?

Ela te olhava e embora você não visse, ela parecia sorrir, pela forma como a expressão do rosto se desenhava.

E por enquanto Lionel e Ethan não veem nada além de uma Hannah relaxando na água. Claro que eles podem estar distraídos, ou simplesmente. não conseguem ver. Não ainda pelo menos.

Sereia

-Bêbado por bêbado, eu já estou indo pra terceira margarita... fora que tomei duas mimosas e um Jack na casa da Sarah. Acho que preciso de mais cuidado então. – Dizia enquanto ria, balançando o drink perigosamente. A bebida rebolava dentro do copo até quase a borda, mas não caia.

Calma ai Lionel, você está ficando bem altinho e bem saidinho. Não esquece que o cara acabou de dizer que é casado e, embora tenha dito que não estava se dando muito bem com o marido ultimamente, não podia ficar dando em cima dele tão descaradamente.

- Ah sim, você está certíssimo. Mas acho meio difícil ele não sentir ciúmes de você né... Você é gato e ta aqui longe dele. No mínimo ele deve estar morrendo de saudades. Eu estaria. – Ele falava, sentindo o corpo cada vez mais leve. Talvez estivesse na hora de parar por hoje. Mas o que é isso? Antes de pensar ele já tinha pego a terceira margarita que estava sobre a mesa, que seria do Ethan, mas pelo jeito ele já tinha parado.

Ethan começava a falar que gostava de romance e de repente Lionel se pegava imaginado tudo aquilo. Flores, chocolates, toalhas combinando. Nunca tinha passado por aquilo e nem fazia questão, mas as vezes pensar naquelas coisas e em como seria isso na sua vida o deixavam um pouco pra baixo por nunca ter tido esse tipo de experiência.

Ai vinha aquela olhada. Lionel ficava rubro, mas do que estava devido a bebida.

- Pare de tentar me seduzir, eu estou bêbado mas ainda lembro que você é casado... Precisaria de pelo menos mais uns três ou quatro... Goles pra não lembrar. – Falava rindo enquanto tomava três goles rapidinhos, completando a piada.

- Ah sim, as habilidades especiais. – Ele dizia levantando o copo no ar em um brinde. – E quais seriam as suas habilidades especiais? – Lionel encarava o rapaz com um olhar malicioso. Sabia que ele não precisava responder, mas adoraria ouvir.

Logo estavam aquelas perguntas sobre a sexualidade e Lionel chorava as pitangas para Ethan. Felizmente o rapaz parecia ser mais aberto do que ele esperava naquele assunto. Enquanto ele falava, Lionel encarava a Margarita, imaginando a sorte que ele tinha.

Realmente a família Kurt nem de longe era compreensiva como a dele. Talvez fosse melhor assim, já pensou? Ele poderia estar casado agora, assim como Ethan. Mas logo o rapaz falava sobre o ombro amigo e Lionel o encarava com um olhar malicioso, dando mais um gole no drink.

- Ah droga... Acabei de beber o quarto gole. – Ele dizia maliciosamente. – Gostaria de usufruir desse “apoio” agora mesmo já que nem lembro o que estávamos falando antes. – Ele ria enquanto falava. – Mas acho que com sua irmã aqui perto, melhor eu me controlar por hoje. – Via o garçom então se aproximar com a coca do rapaz. – Coca? Tudo isso é medo de ficar bêbado demais perto de mim?


O celular vibrava, mas não veria agora, estava um pouco ocupado.

A saudade de casa apertava e olha que nem fazia tanto tempo assim que estivera longe, mal fez uma semana. Respirava fundo sentindo o cheiro do mar, a água balançando meu corpo e todos aqueles pensamentos sobre sereias e animais marinhos. A vontade de querer mergulhar e nadar e nadar sem preocupações, mas ainda tinha uma pitada de juízo por menor que fosse pra me manter no raso e o mais segura possível.

Fechava os olhos, respirava fundo e era aí que sentia aquela pontada na nuca que sentimos quando alguém nos observa. Abria os olhos e dava de cara com uma criança, me surpreendia por não ter ouvido ela entrar na água ou será que tinha vindo nadando? E... Conchinhas? Que fofa! Era difícil não se apaixonar de cara pela menina com olhos tão peculiares. A Riley logo me vinha a cabeça. Seria parente?

- Oi! Tudo bem? - Eu aprumava mais a postura, acenava pra criança e olhava pra ela sorrindo. - Sabe... Eu tinha estrelas do mar iguais as que estão no seu cabelo! Minha mãe adorava fazer trancinhas e colocar elas! - Mexia no meu cabelo como se tentasse mostrar como meu cabelo era preso. - Era um trabalhão porque sempre tive muito cabelo! Seu cabelo é lindo assim! Seus pais estão aqui também? - Que? Eu tava um tanto quanto bêbada e a essa altura do campeonato faria amizade com qualquer pessoa.

- Estou vendo os perigos... - Olhava pra Lionel balançando a bebida e por segurança ficava atento caso fosse cair, não que fosse um problema, mas pelo menos evitaria o desperdício de álcool. Se bem que na situação talvez fosse uma opção melhor diante da quantidade que tava entrando no corpo dele. Agora na minha cabeça a ideia de que teria que levar Hannah e Lionel pra casa.

- Acho que você sentiria porque deve ter mais coração do que ele, que provavelmente já deve ter ido a uns 3 clubes de strip só enquanto conversamos e arrumado uma namorada pra somar a nossa relação. - Falava como se não fosse nada demais, porque de fato não seria. Desde que se se protegessem e não oferecessem riscos a saúde um do outro tava tudo certo quanto ao casamento.

- Minha nossa eu consegui deixar Lionel Kurt corado! - A gargalhada era solta ainda enquanto o olhava sem jeito. Aparentemente aquela olhada tinha sido proposital e com objetivo bem definido. - Do jeito que você está indo com esse copo não vai demorar pra esses goles chegarem eeeee oooolha eles aí... - Era difícil parar de rir. Estava gostando de ver Lionel um pouco mais solto e sem tanta fachada que apresentava. Entendia que o nome pedia o pudor e controle, mas queria que ele soubesse que estava seguro ali.

- Eu poderia enumerar algumas aqui, mas quem sabe você não vai descobrindo depois, han? E pode ficar feliz porque uma delas é um ótimo jantar cura ressaca! Além de excelente massagista! - Era impossível não perceber quais partes da conversa acabavam abalando Lionel e como direcionar a conversa eliminando as partes complicadas.

- Hummmm já chegou no quarto gole? Ainda demorou pra isso... E pra falar a verdade também não lembro... - E então Lionel lembrava de que a Hannah estava ali! Finalmente a coca chegava e eu tomava tranquilamente colocando um pouco de glicose pra dentro e por sorte não tinha bebido muito além de uma dose de Whisky, a taça de vinho no almoço e agora um drink. Estava tudo ok e eita... Hannah! Olhava rapidamente pra água e tinha um certo alívio quando a via tranquila. - Medo, eu? Nenhum... Mas alguém vai precisar de um banho quando voltarmos pra universidade e outro alguém precisa estar sóbrio pra isso. - Olhava de novo pra água e estreitava o olhar. - Mas que porra ela tá fazendo? - Via Hannah acenando, mexendo no cabelo e aparentemente conversando com... Quem?

- Pra falar a verdade acho que vou ter que levar duas pessoas pra casa... Pelo menos a Hannah eu já desovo lá na ZBZ e as meninas cuidam dela. Ela agora tá lá falando sozinha... - Começava a imaginar a conversa que ela estava tendo com o vento e já pensando em como seria a volta pra casa. Difícil não rir um pouco. Dava mais alguns goles na coca e olhando pra ver qual a próxima esquisitice que ela iria fazer. - Acho que vou ganhar um produto valioso pra chantagem... Vem ver isso... - Estendia a mão pra ajudar Lionel a se levantar. O celular na outra mão eu ligava a câmera e dava zoom tentando pegar a Hannah conversando sozinha. Isso daria uma piada e tanto e seria divertido mostrar pra ela depois.

Conforme a bebida ia entrando, o verdadeiro Lionel ia saindo. Ele ficava mais a vontade perto do rapaz, fazia piadinhas e brincava com a situação. Talvez por isso gostasse tanto de beber quando saia, pra ficar mais social e menos preso ao que seu nome representava e como ele deveria agir por conta disso.

- Uma namorada num clube de streep? – A bebida já estava fazendo ele confundir as coisas. – Oookya, um casamento bem contemporâneo... Mas não se engane, meu coração é bem vagabundo as vezes.

Olhava rindo e fazendo um olhar malicioso enquanto falava. Aquela altura do campeonato já estava tão solto que se Ethan fizesse a perguntas certas, conseguiria arrancar informações de Lionel que quase ninguém sabia. Felizmente o rapaz não parecia esse tipo de pessoa e talvez por isso ele tenha ficado tão a vontade para ficar naquele estado.

Mas logo ele falava de Lionel, que ficava vermelho. E então a brincadeirinha dos goles. Um, dois três... Vamos lá, mais um pouquinho e Lionel acordaria na cama errada na manhã seguinte.

- Olha... Se a gente começar a acumular tantos encontros, logo não vou mais querer sair com outra pessoa... – Ele falava assim que o outro comentava sobre o jantar. – E com certeza eu vou querer experimentar essa massagem.

Continuavam falando e ele já chegava no quarto gole. Já era Ethan, teria que levar os dois dalí. Mas será que o Kurt ia parar naquele quarto gole? AH, por favor, nada de dar PT, ele ainda tinha uma noção de como se portar, nem que fosse mínima.

- É... Verdade. – Lionel exagerava o tom de bêbado na brincadeira. - Eu com certeza não vou conseguir tomar banho sozinho. Zesculpe Ethan... Eu juro que não queria que você tivesse que me dar banho... Se tiver dificuldade, chama o Nate pra ajudar...

E então ria descaradamente, imaginando como seria aquele banho a três. Chegava a arrepiar com os pensamentos. Daqueles três dias, esse sem dúvida estava sendo o melhor. A chegada de Ethan tinha melhorado mil por centro aquele lugar.

Ethan logo começava a falar da irmã e Lionel arqueava as sobrancelhas, tentando entender o que estava acontecendo. Chegava a olhar na direção de Hannah, ainda sentado na cadeira, mas a posição tornava impossível ver alguma coisa.

- Hannah ta falando sozinha? – Ele parecia interessando, tanto que já agarrava a mão do rapaz e levantava. – AH, que bonitinho... Sua irmã tem um amigo imaginário... Ohhh. – O rapaz falava, levando a mão a cabeça. – Acho que levantei rápido demais.

Ele apertava os olhos e tinha um calafrio. Talvez realmente devesse parar de beber. Via Ethan pegando o celular para gravar a irmã e se apoiava com a cabeça no ombro do rapaz, muito provavelmente fazendo a imagem da gravação tremer.

-Acho que o quarto gole não desceu direito. – Ele dizia, rindo fracamente. – Me dá um golinho da sua coca por favor. – Dizia, ainda apoiando a cabeça no seu ombro. Talvez fosse só um pouquinho de drama pra poder ficar mais perto do rapaz. Será?

Como não lembrar de Riley? Era raro pessoas com duas tonalidades nos olhos, e aquela menina ainda tinha os cabelos parecidos também, era como ver Riley criança, só que diferente. Não tinha a carranca fechada de Riley, era simpática, pura, como toda criança deveria ser.
 
Deveria.
 
Você então fala com ela, e ela ergue os olhos na sua direção, te dando toda atenção do mundo, vendo você falar que sua mãe também prendia os seus cabelos, e pegar nos próprios cabelos gesticulando, embora ela ainda não mostrasse todo o rosto, que permanecia embaixo de agua, dava para ver que ela se divertir com seus gestos, Hannah.
 
Você fala que o cabelo dela era lindo, e ela joga a cabeça de um lado a outro, como se brincasse com você, e então você pergunta dos pais dela, e ela pisca os olhos repetidas vezes até focá-los totalmente em você.
 
- Lá embaixo...
 
Ela fala voltando os lindos olhos para baixo, como se falasse que os pais estão la embaixo, ela volta a erguer os olhos e então logo sussurra.
 
- Você também vai....
 
É no momento que ela diz isto que você pode sentir como se dedos envolvessem um de seus pés, embora parecem dedos bem extensos, eles parecem dar a volta em seus pés, ao mesmo tempo também são pegajosos, você não tem muito tempo de sentir qualquer sensação, Hannah, você recebe um puxão brusco e é puxada para baixo. Seu corpo mergulha e é arrastado mais pro fundo, você não consegue ver, mas é como se uma espécie de mão negra com dedos muito longos envolvesse seu pé e te puxasse de modo brusco. É tão decrepita a mão que você poderia até assemelhá-la a um galho de árvore apodrecido, bem antigo, embora. Vivo. Bem vivo.
 
Você também tem uma sensação estranha como se pequenos animais marinhos deslizassem pela sua perna, saindo da pele desta mão, você vai ver de relance, sua preocupação maior é sobreviver no momento não? Mas são pequenos vermes, de tom negro e cobre que começam a envolver sua perna, cobrindo-a por completo.

Em momento algum a situação me alertava ou enviava de sensação de perigo. Estava numa praia, era uma criança. Apenas uma criança fofa e sorridente, pelo menos era o que parecia, certo? Era esse o meu foco. Estava lidando apenas com uma Riley mais nova e fofinha, quais eram as chances de conhecer duas pessoas com olhos tão incríveis? Nem cogitava pensar nisso... Estava bêbada, feliz, leve e sorridente.

Eu adorava crianças, sonhava em ser pediatra! Vejam que ironia. Lidar com elas era tão fácil e vê-la aparentemente se divertindo com minhas brincadeiras era algo gratificante. Dava até até calorzinho no peito ou talvez isso fosse só o álcool falando. Sacudia a cabeça fazendo com que meu cabelo voltasse a posição normal depois de fingir prendê-los enquanto ela falava e eu erguia as sobrancelhas levemente confusa. Lá embaixo? Como assim?

- Seu pais estão... Lá embaixo? Ahhhhh já sei! Eles são sereias também! - Até ali tudo parecia tranquilo, certo? Ela tinha conchas na cabeça, estava na praia, então tudo o que podia pensar era que ela gostava desse universo. Que criança não gosta? Estávamos brincando de ser sereias! Aquele sussurro... Como assim eu também vou? E nesse momento vinha a sensação, aquela descarga repentina de adrenalina irradiando pelo meu corpo em milésimos de segundos como se um balde de água fria tivesse sido despejado sobre mim. O toque nos pés e era pra lá que direcionava minha atenção mesmo que submersos, não existia tempo para pânico ou para pensar em qualquer coisa.

Enquanto afundava erguia os braços numa tentativa vã de me agarrar a superfície da água como se isso fosse impedir que fosse puxada. Sentia meu corpo sendo arrastando, a bunda batendo na areia e tudo a minha volta sendo remexido pelo meu movimento desesperado para voltar a superfície, areia subia, dificultava a visibilidade. O que estava acontecendo? Olhava em volta tentando enxergar alguma coisa, tentava sacudir as pernas e libertá-las de seja lá o que estivesse me prendendo. Tentava nadar pra cima, voltar a superfície enquanto os pulmões começavam a clamar por oxigênio.

O desespero era a pior parte, faz o pouco oxigênio que tinha nos pulmões esgotar cada vez mais rápido. Eu não tinha muito tempo, podia desistir ou tentar sair dali. Eram as únicas opções. E eu não queria morrer. As lágrimas se misturavam a água do mar. Os olhos ardiam pelo sal. Eu só conseguia pensar no Ethan... E na Mamãe e no papai... Sabe aquela coisa de que nos últimos instantes toda a sua vida passa na sua frente? Não era isso que eu via, apenas imaginava o tormento que seria pro Ethan que momentos antes estava tão feliz. Eu não podia desistir, eu não ia desistir!

Tateava pelo chão em busca de pedras, conchas, pedaços de corais, qualquer objeto, qualquer mísera coisa que servisse pra tentar livrar as pernas. O ar faltava, eu já não me mexia tanto. Agarrava um pedaço de coral com uma das mãos. Era isso. Aqueles vermes subindo, a sensação de ter as pernas tomadas por eles, a agonia, o desespero. Começava a golpear e esfregar as pernas para me livrar dos vermes e... Galhos...? Algas...? Dedos??? O que era aquilo que me segurava ali embaixo? Não importava. Eu não queria morrer. Não queria. Eu queria viver. Queria ter uma vida. Me agarrava a isso com todas as forças. Quero viver. Quero viver. Esmagava alguns vermes, não sabia se era meu sangue ou o sangue deles que começava a subir e colorir a água, o ardor nas pernas, os pulmões queimando. Eu queria viver. Queria viver.

Os pulmões clamavam, começavam a queimar, num desespero e movimento involuntário tentava respirar e sentia a água queimando as narinas. Eu queria viver. Não queria morrer. Quero viver. Mais e mais golpes nas pernas. Eu quero viver. Por favor. Me deixa viver. Eu não quero morrer. Os movimentos ficando mais lentos, mas eu tentaria me soltar enquanto existisse forças. Nenhum machucado importava, eu só queria sobreviver.

Era fácil ter momentos agradáveis com Lionel, na minha mente apenas torcia pra que fosse apenas uma de tantos outros momentos agradáveis que teríamos. Hannah também gostava dele o que era um bom indicativo. A cada confusão de Lionel eu dava uma pequena risada. Estava tudo leve e alegre. - E viva os corações vagabundos e boêmios. Temos uma ótima combinação!

A essa altura já tinha percebido o quanto Lionel precisava de um momento assim para se libertar e também ficar sem ressalva alguma. Esperava conseguir a confiança e amizade dele. Ter amigos era uma das coisas mais valiosas e por isso mesmo eu não estragaria isso agora. Claro que toda a atração era evidente, difícil resistir ao charme e carisma dele além de toda a beleza. - Já temos um café, um almoço, um jantar e agora uma massagem inclusas! Quase um dia completo de atividades!

Aquela brincadeira toda sobre banho e eu entraria na onda. - Não se preocupe... Ajudo com prazer... Mas acho melhor não chamar o Nate por mais que seja tentador podemos ser expulsos... Aí perderíamos de vez a chance de ao menos vê-lo desfilando de cueca! Vamos ter que nos contentar com isso! - Eu gargalhava junto com ele e balançava a cabeça negando como se fosse uma ideia ruim, mas no fundo nem tão ruim assim, certo?

- Ela tá sim! Olha isso! - Tinha pousado a coca na mesinha antes de ajudá-lo a se levantar, o segurava com a mão firme quando ficava de pé e olhava pra você enquanto te ajudava a se manter de pé. - Opaaaa, garotão... Melhor você se sentar... - Sorria de canto, mas ainda permanecia segurando a mão dele enquanto tentava filmar Hannah com o celular na outra, já com certa dificuldade pelo zoom que sempre desestabiliza mais a imagem e ainda mais agora com Lionel apoiado, mas eu não reclamava.

- Claro... - Tirava a vista de Hannah apenas pra inclinar um pouco e pegar a latinha pra entregar a Lionel. Quando voltava a olhar pra tela do celular conseguia apenas ver um segundo antes de Hannah desaparecer. - Que???? - Parava de olhar pra tela e olhava pro mar, ela tinha afundado e não tinha voltado. Tinha afundado rápido demais e não tinha voltado. Não era apenas um mergulho. Algo estava errado. Entregava o celular pra Lionel. - CHAMA ALGUÉM! - Eu já gritava mesmo enquanto me afastava dele e começava a correr pra água indo na direção do ponto em que ela desaparecera. - HAAANNAAAHH!!! - Começava a gritar percorrendo o curto caminho já pra chamar a atenção mesmo até porque tinha salva vidas ali, certo? Lionel tinha mencionado, mas eu não esperaria por eles.

Corria para a praia, chutando e jogando areia pelo caminho e incomodando qualquer pessoa que estivesse preguiçosamente tomando sol. - HAAANNNAAAHHH!!! - Se grito ajudasse a tirar ela da água já era garantido. Berrava em plenos pulmões quando os pés tocavam na água e parava quando chegava a altura dos joelhos, tentava ver qualquer sombra de onde ela estava. Será que tinha sido puxado pra além do que pudesse ver? Teria sido o que? Um sumidouro? Uma corrente repentina? Tinha tubarão ali? Milhões de coisas passavam pela minha cabeça enquanto olhava pra água tentando encontrá-la. - HAAAANNNAAAHHH!!!

Gritava mais, entrando mais um pouco na água apenas acima do joelho. Buscava com os olhos qualquer indício de onde ela pudesse estar... mais alguns passos, água na altura da coxa. - HAAANNAAAHHH!!! - Os olhos vasculhavam procurando qualquer indício e nada. Simplesmente nada. - HAAANNNAAAAHHHH!!! - Era difícil não gritar, o desespero, o coração acelerado. O que tava acontecendo? Não podia perdê-la. Mergulhava tentando enxergar algo em volta. Ia de um lado pro outro, procurando qualquer sinal, voltava para buscar ar, olhava em volta desesperado. - Não não não não não não! HAANAAAAHHHH!!!! Não faz isso comigo... HAAAANNAAAHHH!!! - Gritava dando mergulhos tentando encontrá-la. Já não sabia se no meu rosto eram lágrimas ou a água do mar.

Lionel piscava para o rapaz quando ele dava aquele viva. Com certeza tinham uma ótima combinação, isso era mais do que evidente. Imagine como ficariam as pessoas de Dux ao ver os dois juntos? Lindos, charmosos, ricos e esbanjando glamour. Era pra fazer qualquer um se matar de inveja.

Enquanto a conversa ia acontecendo, ele ia terminando o drink e rindo a medida que Ethan falava. Era tão divertido conversar com ele, flertar em forma de brincadeira e não sentir o peso das outras pessoas te julgando. Ainda lembrava das palavras que Riley tinha dito na noite anterior... Imagine se ela estivesse ali agora. Com certeza tinha ficado frigida depois... Ah, esquece, não era hora de ficar pensando na garota, era hora de curtir o momento de paz e tranqüilidade.

- Desse jeito, daqui há alguns dias você vai tomar conta de toda a minha agenda. – Não que isso fosse uma coisa ruim, mas esperava passar alguns bons momentos com o rapaz que conversava com ele.

Logo ele fazia a brincadeira de estar bêbado e Ethan entrava na brincadeira.

- Não! Imagine só perder uma coisa dessas! Com certeza não podemos chamar ele. – Ele ria e terminava o drink antes que o rapaz lhe oferecessem a mão para levantar.

Assim que levantava, sentia a bebida bater. Talvez a brincadeira de estar bêbado não fosse tão brincadeira assim. Forçava os olhos e se apoiava em Ethan enquanto ele filmava a irmã e então pedia a coca. Quando o rapaz o largava para pegá-la ele chegava a dar uma tropeçada, mas logo se firmava e conseguia ficar inteiro. Não seriam alguns drinks que iriam lhe derrubar.

- Não estou tão mal... Acho que só levantei muito rápido. – Ele falava e então, pegando a cocam dava um gole.

Enquanto bebia via a expressão do rapaz a sua frente mudar de repente. No começo não entendia o que estava acontecendo, mas assim que Ethan deixava o celular com ele, mandando que chamasse alguém, e saia correndo na direção da praia, seu olhar o seguia. Procurou Hannah com os olhos e não a encontrou.

Na hora o rapaz olha em volta, procurando o garçom que o atendera e gritando.

- Minha amiga sumiu! Na praia, chama os salva vidas! – Ele falava e já corria na direção em que Ethan tinha corrido.

Enquanto corria, meio desajeitado, pensava no que poderia fazer para ajudar. Não era nadador e muito menos tinha como ajudar a reviver a garota. Foi ai que no fundo da sua mente bêbada veio-lhe as mensagens e o grupo. Hannah mesmo tinha mandado “Qualquer coisa estranha avisem”. Aquilo era uma coisa estranha.

Abriu o grupo no celular no Ethan e mandou uma mensagem enquanto corria:

“Gente, a Hannah... Ela sumiu na praia... Tava tomando banho no mar e sumiu... Salva vi...” A mensagem era mandada pela metade, porque naquele momento ele havia visto um rapaz que julgava ser o salva vidas do Resort.

- Salva vidas! Minha amiga! Ela sumiu! Tava ali na praia. O irmão dela foi correndo atrás. - Ele falava para o rapaz que provavelmente já corria na direção de Ethan devido os gritos.

Ele corria até a beirada da praia, sentindo a água molhar seus pés. Via o Ethan lá dentro, procurando pela irmã. Mas porque aquelas porcarias só aconteciam quando ele estava bêbado? Esperou que a adrenalina o ajudasse a ter um lapso de sobriedade enquanto tentava enxergar a garota da beirada da praia. Afinal ela não estava tão no fundo na ultima vez que a vira.

Sua resposta as perguntas para a menininha vem em forma de horror, Hannah. Simplesmente aquilo toma seu pé e te puxa para baixo de uma maneira que você não consegue evitar.
 
Parece obvio o objetivo do que quer que seja aquilo, te manter embaixo de água até não lhe sobrar mais ar nos pulmões, até não lhe sobrar mais nada. E você consegue ter certeza que não é nada deste mundo, quando aqueles vermes vindos dos dedos decrépitos e longos passam a tomar sua perna.
 
Você luta pela sua vida, e descobre naquele momento que quer viver mais do que tudo. Momentos assim nos fazem descobrir um valor único a vida. Nos fazem ter vontade de viver acima de tudo e de qualquer horror a que possa ser submetido. Experiencias como estas nos marcam para sempre, e agora talvez você entenda o estado das pessoas mais envolvidas naquilo.
 
Você está bem envolvida agora, não?
 
Enquanto se debate e luta pela vida, tentando tirar os pequenos vermes de sua perna com corais, machucando-se no processo, e ficando cada vez com menos força. Mas não menos esperança, certo?
 
Você é uma lutadora, que afunda em meio ao próprio pesadelo, enquanto seu irmão tenta em vão te procurar desesperado pela água, remexendo a água, mergulhando, buscando-a em profunda agonia. Lionel já chama um salva vidas, e o rapaz de imediato pega a boia e corre na direção da praia.
 
Hannah, você já sentiu o exato momento que não adianta mais lutar? Seu destino já está selado, suas escolhas já foram feitas. E não por você.
 
Isto deve ficar claro neste momento, o livre arbítrio não existe mais a partir do momento que olhou nos olhos coloridos daquela criança.
 
Você sabe que simplesmente seu tempo acabou, você sabe que não pode mais lutar por uma vida que não é mais sua, e sim aquelas lembranças de infância, de tudo que fez, do que queria fazer, do que ainda faria, tudo isto corria a alma, não acalma.
 
Ninguém morreria assim e se acalmaria com lembranças que só trariam mais dor.
 
Enquanto você sente seu corpo deixar de responder, percebe que o silencio abrupto da morte te deixa ouvir seu próprio coração bater.
 
E é a única certeza do porque você ainda está ouvindo.
 
Ele bate. E te mandem “acordada” o suficiente para te fazer perceber, enquanto seu pé simplesmente se libertou, você sente aqueles dedos compridos se desenrolando de seu pé, e te libertando, ao mesmo tempo que os vermes caem mortos de sua perna, tornando a água cristalina uma emaranhado negro deles, enquanto seu corpo sobe a superfície, aquele horror afunda junto de seu pesadelo.
 
Você não tem mais forças para lutar, é o mar que te puxa, e que deixa Ethan ver seu braço e parte do seu corpo aparecendo, é quase ao mesmo tempo que ele se joga em desespero em sua direção, e te puxa para a beirada da praia do modo que consegue.
 
O salva vidas logo vem na direção de vocês, aparecem outros dois, para deitar seu corpo na areia e realizar os procedimentos que salvariam sua vida.
 
Não eles.
 
Sua vida já havia sido salva.
 
Do mesmo modo que foi escolhida ser ceifada antes.
 
Foi escolhida agora ser poupada.
 
Assim mesmo. Como os anjos comandam os céus e os demônios os Infernos.
 
Não existe mais o livre arbítrio.
 
Não neste pesadelos, e quando vocês entenderem isto, talvez entendam o que realmente precisam fazer.