A Festa do Leão

Me sentia mais seguro quando Simon encostava e podiamos amarrar ele melhor e deixá-lo mais seguro do que apenas com o cinto. Tinha até certa maestria nos nós que dava, prendendo as mãos dele com uma gravata e em seguida prendendo as toalhas sobre a primeira amarração.

Não colocava as meias na boca dele, mas tirava um lenço do bolso traseiro. Que? Sou um cavalheiro a moda antiga e enfiava a bola de tecido na boca dele e com a terceira gravata fazia uma venda pra o garoto.

Seguíamos o caminho com minha cabeça ainda soltando fumaça tentando entender. - Simon... Se esse garoto tava sendo controlado, tinha alguém na Ômega que deveria ser atacado. Então ele pode ser só mais uma ferramenta como você ou a Bri ou ter alguma informação útil... - Olhava os movimentos do garoto e maneava a cabeça. - Melhor conversamos depois. Vai que ele acorda.

Olhava intrigado pro muro e o portão. Ele tinha ido direto pra lá então conhecia o lugar, mas longe de mim me meter ou perguntar a respeito das coisas... Só era difícil controlar a expressão e logo Simon começava a explicar depois de ter pago em dinheiro e segurimos pra suíte. - Longe de mim questionar... - Dava de ombros e não fazia mais nenhuma pergunta depois dele explicar aquela situação.

Apesar das mãos bem amarradas do garoto ainda tinha a sensação do ruim do seu toque bem presente. Sentia um arrepio quando precisava ajudar a carregá-lo pra dentro do quarto. Tomando cuidado pra não encostar em nada dele que estivesse descoberto de tecido.

Ao entrar no quarto já levava o garoto até uma cadeira, olhava nos armários e gavetas que estivessem por lá e começava a desembalar as algemas e até mesmo chicotes que estivessem por ali. Que? Num hotel desses reservado para tantos eventos discretos o mínimo era dispor do básico para uma festinha divertida.

A algema era colocada nos pulsos do garoto, por cima das gravatas mesmo, tirava apenas as toalhas. Passava o suporte do punho do chicote num dos pulsos e deixava as mãos afastadas pelo cabo, usava as tiras pra manter tudo no lugar e atados aos pulsos. Assim ele ficaria sem conseguir fechar as mãos ou ter chance de nos pegar de alguma forma.

Se o lugar era tão discreto, não se incomodariam com uma leve rebeldia no quarto, certo? Já estava rasgando tiras do lençol e amarrando-o na cadeira e suas pernas nas pernas da cadeira. Uma certa maestria com nós. Olhava pra Simon e dava de ombros. - Cada um com suas habilidades... - Só então sentava na cama e puxava o celular pra enviar uma mensagem pra Bri. A ruiva deveria estar surtando sem notícias por tanto tempo. Minha mente ainda pensando se o pobre garoto era apenas uma vítima ou se fazia parte. Agora era esperar as pessoas chegarem pra vermos como fazer e o que fazer.

Esperava pacientemente a liberação e faria qualquer pagamento depois de puxar a carteira de couro vermelho da bolsa e as cédulas que estavam por ali. Melhor não deixar o nome associado a qualquer coisa daqui pra frente.

- Obrigadinhaaaa! - A voz doce e a expressão de alegria desaparecia ao mesmo tempo em que o vidro terminava de fechar. O mau humor e a preocupação eram nítidos.

Seguia as indicações pra chegar até a suíte que tinha sido reservada, os olhos não se atendo a muitos detalhes do local, mas de fato tudo de primeira linha e discretos. Estacionava o carro ao lado do de Simon, não sabia quem mais tinha vindo com ele.

Ao descer seguia pra mala e pegava o mesmo kit que tinha entregado pra Bri, pro Lionel. Ainda pegava mais algumas cordas e uma saca de 5kg de sal que entregava pro Lionel e pegava outra pra mim.

- Melhor cercar ele com sal seja lá como esteja e proteger também as portas do quarto e do banheiro e janela... Sei lá... Melhor prevenir. - Falava baixo, quase um sussurro. Apenas pra eles ouvirem. Seguiam pra porta que levava a suíte e tocava batia na porta. - Chegamooosss... - A voz era feliz e animada, totalmente o oposto da expressão, mas vai que na parte externa algum áudio ainda podia ser vazado? Falava no plural pra Simon reconhecer a voz e saber que tem mais gente comigo.

Vocês não tinham grandes dificuldades para sair, com a ajuda dos Omegas.

O grande problema é que, por ter sigo apagado apenas com um estrangulamento, ele despertaria logo.

E isso acontece quando vocês estão saindo.

Tim, sentado ao lado dele, no banco de trás, consegue contê-lo... Não sem antes de sofrer com aquele toque terrível que quase pagar caro dessa vez, por ser ainda mais intenso.

Com a ajuda de Simon, que parava o carro e amarravam o rapaz, agora vocês podiam seguir viagem com mais tranquilidade, já que ele acordava e se limitava a tentar se soltar, sem nada dizer.

Logo ele não oferecia resistência e, como vocês tomavam cuidado para não tocá-lo, conseguiam seguir em frente e amarrá-lo em uma cadeira de madeira.

Hannah logo chegava e partia para o plano de cercá-lo com sal, coisa que ele acompanhava atentamente, a seguindo com os olhos.

- Toda essa tristeza é pelo seu irmão, ou pela Sarah? - Ele perguntava em tom baixo, te olhando por trás das lentes de grau dos óculos.

O tom dele era neutro, Hannah.

Até mesmo... Curioso.

VEIO DAQUI

Lionel pegava o celular e o guardava no bolso da calça e então, com a garrafa de água de Hannah, molhava o rosto e o cabelo, tentando parecer menos destruído.

Tentava seguir em silêncio dentro do carro junto a Hannah e Bri, embora vez ou outra se ouvisse algum soluço que escapava sem querer. A vontade que tinha era colocar fogo na mansão como todos lá dentro e esperar que o demônio fosse exorcizado através do fogo.

Logo Hannah colocava a mensagem no viva voz do carro e Lionel estranhava a tal proposta e, talvez devido ao surto emocional não entendia a principio, mas logo as coisas começavam a se juntar em sua cabeça. Será que finalmente teriam as respostas que precisavam?

O lugar era escuro e um tanto discreto para o motel e, ao abaixar a janela, Hannah parecia animada demais para alguém que estava passando por tanta coisa. Logo seguiam para a suíte, de longe a maior do lugar, a porta da garagem se abria e, assim que entravam, desciam do carro. Hannah continuava com o tom animado e Lionel tentava não parecer tão abalado.

A porta se abria e assim que Simon aparecia, abraçava o irmão e desabava em lágrimas.

- Até o Stuart Simon, até ele ta envolvido nessa porra. – Falava entre o choro enquanto era levado até a cama pelo irmão, para que sentasse. – Não da pra confiar mais em ninguém.

Via o rapaz na cadeira e Hannah fazer o circulo de sal ao redor dele. O filha da puta ainda falava com ela daquela forma, como se achasse graça em tudo o que estavam fazendo.

Lionel era tomado por uma raiva que estava acumulada a tempos e então levantava pisando duro e ia rapidamente até onde o rapaz estava, no caminho procurando por alguma coisa que pudesse usar para extravasar. O saca-rolhas sobre o frigobar serviria bem.

- Filho da Puta! – Dizia e então enfiava a ponta do saca-rolhas na perna do rapaz com tanta força que o metal afundava na pele. – Dobra a língua pra falar do meu namorado!

Brigitte assim que chegava com eles, procurava Tim com os olhos,  obviamente cumprimentou Simon antes, parando em sua frente, e estendendo a mão.

- Ela pediu para dizer que sabia que que aquilo não era você, Sr. Kurt. Você nunca machucaria ela... - Não tinha intimidade com ele para chama-lo pelo primeiro nome, mesmo estando no inferno junto do grupo agora.

Engoliu em seco e foi procurar Timothy.

Quando o viu, logo envolveu o rapaz com os braços em torno do pescoço e se pendurou nele num abraço demorado, encostando o ouvido junto do coração dele.

- Que bom que se cuidaram... Agora precisamos ficar juntos, por favor... - Não queria mais se separar dele, a voz soou baixa e abafada, disse aquilo próximo ao ouvido de Tim.  

- Fica de olho em mim, não confio em mim mais. - Ainda estava desconfiada do alcance deles, podiam controlar ela ainda.

Mas, a sensação de paz durava pouco, logo via o rapaz preso dentro e eles informavam que o mesmo apenas com o toque da mão os fez passar mal.

Suspirou fundo e foi olhar para ele.

Sangue vermelho e viscoso.

Pra sempre.

- Vocês ajudam ele a fazer os sacrifícios usando as pessoas e depois as descartando. Vocês sabem o que ele está criando dentro do círculo no limbo dele? - Mas, mal falava e via um Lionel correr até o rapaz enfiando um saca rolhas na perna dele.

Não sentia pena.

A expressão no rosto era séria.

- Madison acordou e me contou tudo que viu e a negociação que fez para salvar as almas e vidas dela é do Ethan. - Deu dois passos na direção do rapaz.

- Eles ligou a alma de Ethan a alguém de sobrenome Hunter e ela está ligada a alguém de nome Furokawa. Ambos são traidores. Mas, pelas informações de vocês a irmã adotiva de Keisuke era filha do doutor Hunter e quando a mãe morreu no acidente passou a ser Furokawa, também. Então poderíamos julgar que ambos estão ligados a ela, não é? - Seguia seu raciocínio devagar, sem se importar se o rapaz sentia dor ou se estaria sorrindo.

- O Barão disse que os dois tiveram sorte de encontrarem ele e Brigitte no limbo, pois se fossem encontrar sua contraparte, o Doutor Hunter seriam apenas cobaias.  - Ela sentava na frente do rapaz.

- Madison também contou que o que o liga é a vida, se Furokawa ou Hunter forem machucados nada acontece com ela ou Ethan... - Um sorriso cínico surgia nela.

- O Barão já parece ter renascido, falta as vítimas para trazer Brigitte de volta, porque vocês falharam, não é? Ele não dev estar de bom humor, e convenhamos... Ele ligou apenas a garota a nossos amigos, isso quer dizer uma coisa, todo o resto, e isso inclui você amiguinho, são descartáveis. Entendeu? - Piscou para ele continuou sentada na frente do rapaz.

Brigitte sorria.

Quando percebia os olhos do garoto piscando, mal tinha tempo de gritar avisando pro Simon do fato, já tentava prendê-lo de novo, mas sem antes ser tomado por todas as sensações de novo... E dessa vez era diferente. Era como ter sido jogado dentro de um lago congelado ficando por baixo de uma camada espessa de gelo segurando um bloco enorme dele.

Envolvia o garoto da forma que conseguia e ficava recebendo seu toque enquanto Simon o imobilizava de forma mais segura. Era o que eu podia fazer agora, absorver tudo aquilo pela segurança do Simon e pela certeza de mantêr o pivete seguro. O frio era mais intenso, o próprio podia sentir meu corpo sendo sacodido e levando o dele junto.

Parecia pior... Se todas as sensações de fracasso e coisas ruins tinham sido pesadas antes, nem conseguia descrever o momento. Tentava me apegar ao calor que desejava sentir, as lembranças boas, mas elas se esvaiam como fumaça por entre meus dedos. A cor ia sumindo do meu rosto e levando consigo a vontade de viver, mas não podia desistir. Não de novo. Tinha motivos pra lutar.

Prendia o garoto de forma firme quando chegavam no quarto. Longe de mim querer que esse Midas infernal tocasse em algum de nossos amigos. Ninguém merecia sentir aquilo. A sensação perdurava. Dessa vez não se afastava. Era como um sopro gelado na nuca, causava arrepios, frio na espinha, o esTômago embrulhado. Era um misto de dor com saudade, de medo com a sensação de ter esquecido o fogão ligado. Tudo ficava confuso e nublado.

Deixava que Simon atendesse a porta e era surpreendido por Lionel entrando daquela forma. As reações e algumas coisas ditas só reforçavam que aquele grupo já presenciara mais do inferno do que eu sabia. Lembrava um pouco das matérias e as situações do ano passado, tudo parecia normal demais e até aceitável, agora já começava a duvidar da normalidade dos fatos.

Dava de ombros com o que Simon dizia a respeito das amarrações e sentava na cadeira mais próxima da parede, onde podia ficar de olho no pivete e longe do toque. Ouvia as batidas na porta e uma voz alegre demais pro momento, franzia o cenho e mais ainda com a reação do Simon, mas é claro... As câmeras. Hannah mal passava pela porta e via sua expressão mudar como mágica.

E desculpa, Lio, mas todo o resto desaparecia no momento em que a Brigitte entrava no quarto. Ficava de pé e recebia o seu abraço. Por um instante era como se aproximar de uma fogueira em brasa. Reconfortante, quente. Aquecendo lentamente por dentro. A ruiva podia sentir meu corpo gelado, ainda trêmulo.

Só conseguia balançar a cabeça com a ideia de ficarem juntos. Aguentaria todo toque do inferno do mundo pra mantê-la longe daquilo. Passava as maõs suavemente por suas costas. - Ficarei. - Era só o que conseguia dizer. Não tinha forças pra mais agora. Apesar de uma leve recarga na bateria, ainda estava abalado.

- Lionel não chega... - Não conseguia terminar de falar a frase antes de ver o garoto se aproximando com o saca rolhas do pivete e uma Hannah que colocava sal em volta dele intervir. A situação era impactante.

O choque começava a aumentar um pouco ao ouvir o quanto Brigitte conhecia daquela situação toda e por mais que toda argumentação fizesse sentido, não tinha lógica. Mesmo vivenciando era difícil acreditar.

Quando Brigitte começava a andar na direção dele apenas colocava uma mão no seu ombro pra impedir que se aproximasse demais. Não sabia a extensão dos poderes dele ou se aquela cadeira ia segurá-lo no lugar.

- Melhor todo mundo se acalmar e se manter distante dele. Não sabemos o que ele pode fazer e também quem pode chamar ou invocar ou que diabos seja. Melhor proteger também as portas... - Balançava a cabeça ainda um pouco incrédulo. - E janelas e afins.

Era recebida pro Simon a quem retribuía o abraço e até levantava o bracinho fingindo uma animação contagiante que logo desaparecia como tinha acontecido no carro. Deixava Lionel sendo consolado pelo imrmão e já começava os trabalhos. Como ele começava a chorar agarrado ao Simon, pegava a saca de sal dele e colocava no chão. - Timothy, quando puder... - Deixava que os ruivos se abraçassem e passassem pelo momento de calmaria antes da tempestade. Eu não me permitiria isso.

Lembrava muito bem o que momentos de calmaria significavam ou o inferno que podiam trazer. Ouvia atentamente o que Simon dizia a respeito do toque do pirralho e ficaria atenta aos movimentos dele, principalmente agora que começava a colocar o sal em volta dele. Uma distância de mais ou menos um metro em volta da cadeira.

Ouvia o que ele dizia e limitava a erguer o rosto com uma tranquilidade enorme. Quando abria os lábios pra responder ouvia o berro de Lionel e quando os olhos iam na direção dele apenas via o rapaz se aproximando. Minha primeira impressão é que o pivete levaria um bom soco e lembrava de Simon avisando pra não tocá-lo ou chegar perto. - Lio! - Não conseguia ver direito o que Lionel tinha na mão, apenas colocava a minha na frente da sua pra impedi-lo de chegar perto do pivete.

Sentia o queimor irradiar e subir pelo braço, mas por hora o ignorava pra afastar Lionel dali. - Não chega perto. - Fitava o rapaz, com um ódio reluzindo nos olhos acizentados e em seguida o guiava até a cama quase que o forçando caso resistisse. Puxava um banquinho e sentava a uma distância do sal, ficando de frente pro pivete. Tinha a postura impecável e o rosto de cera numa expressão tão neutra quanto a dele. Do cinto do batman que usava tirava um tecido branco e começava a enrolar a mão sem de fato prestar muita atenção ao ferimento, por mais que estivesse feio e dolorido.

O saca rolhas tinha, por sorte, pego na lateral da mão esquerda e lacerado a carne. O mindinho não se movia, mas era um problema pra resolver depois. Enquanto fazia essa tala improvisada ouvia tudo o que Brigitte dizia e não a interrompia. Quando terminava de dar o nó de forma hábil no tecido voltava a encarar o garoto. A voz saía suave, como se estivesse jogando conversa fora com um amigo.

- Oi... Bem, respondendo a sua pergunta... Pela Sarah. Não é segredo pra ninguém que eu a amo e perceba que disse que a amo e não amava, por mais que a tenha perdido é um sentimento que vou carregar pra sempre comigo junto com vários outros, mas isso você já sabe, não é? Você me conhece, conhece o Lionel, o Simon, o Ethan, a Bri e bem... Mais alguns dos meus amigos como nenhum outro, estou certa? Sabe das nossas verdades, dos nossos medos, dos nossos pontos fracos e isso é tudo o que vocês usam como armas pra nos atingir e conseguir ajudar nos objetivos do seu mestre.

Tinha até um tom sarcástico quando continuava falando agora. - Uma das coisas que vocês... Sabem... Esquecem de contabilizar... - Agora me permitia até a soltar um leve bufar de escárnio. - É o fator humano. O quanto um sentimento nos move a fazer loucuras e coisas impensadas, como agora pouco quando o Lionel tentou fazer brotar vinho de você ou o quanto alguém doce quanto a Brigitte pode sentir ódio ao ser usada da forma que foi... Ou como uma mera humana como eu... Pode ser perigosa. - Cerrava os olhos e o fitava. Agora a voz ganhava um tom de ameaça.

- Como ela mencionou você, eu, seus outros amiguinhos e aliados são todos descartáveis. De uma forma ou de outra o Barão, com todo o poder e eternidade que possui pela frente, vai conseguir o que quer. Seja hoje ou amanhã ou daqui há alguns anos, centenas, vai saber. Tudo pode não passar de um mero contratempo pra ele. O que eu quero saber é se você quer livrar sua alma dessa danação eterna e se livrar dos poderes dele que logo logo vão minguar ou se fortalecer, nunca se sabe, não é?... Ou se quer que nós acabemos logo com isso e já enviemos sua alma pra ele resolver a situação como o traidor que você se tornou? Afinal... Pro Barão tamanho fracasso como esse seu é uma traição imperdoável.

Falava com confiança, com chaves e trunfos que eu sabia possuir. Não parecia estar com medo ou nem ao menos intrigada com a presença dele ali ou nada do que estava acontecendo. Era como se tudo fosse apenas parte de um plano meu muito bem arquitetado e que seguia com sucesso pelo curso planejado.

O garoto arqueava a sobrancelha ao te ouvir gritar, Lionel.

E se encolhia um pouco quando você se aproximava, meio que antecipando o possível ataque e se protegendo como podia.

Mas Hannah entrava na frente e recebia todo o ataque, abrindo um corte muito feio na mão.

O garoto cerrava os olhos, olhando diretamente para Hannah por alguns longos segundos, os ignorando por completo.

Até que respirava fundo e voltava o olhar para Simon.

- Fica a vontade, com o sal... O máximo que vai conseguir é subir minha pressão ou me deixar com sede. Vocês não fazem ideia do que estão fazendo, não é? - E, novamente, o tom dele não era agressivo ou petulante.

Era bem neutro.

Analítico, por assim dizer.

Era quando Brigitte passava a falar e falar e ele movia a cabeça positivamente, como se nada daquilo fosse novidade.

Como se ele já... Soubesse de tudo.

Principalmente da parte de ser descartável.

- Está cheia de razão, Brigitte. E bem informada... Diferente dos seus amigos... - Ele dava de ombros - Nossos líderes estão vinculados, como uma apólice de seguro... Já sabia disso. E sim, sou descartável. Me veja como um homem bomba... Mas diferente deles, que esperam ir para um suposto paraíso com 21 virgens, eu sei o que me espera. Não tenho pressa para ir, entenda bem... Mas sinceramente, não faz a mínima diferença. Vocês já enfrentaram alguém que não teme a morte? Porque, convenhamos, sei que passaram por muito... Mas nunca enfrentaram nada parecido conosco, posso assegurar... - Ele dizia, mais uma vez naquele tom impassível.

Mas era possível sentir algo diferente nas palavras.

Era possível sentir orgulho emanando dele.

E quando você falava do vidro, Timonty, ele te olhava de canto dos olhos, mas nada dizia.

Mas... Quase ao mesmo tempo, vocês começavam a ouvir algo nas janelas.

Uma leve batida contra o vidro.

O vento, talvez? A cabeça de vocês pregando uma peça?

tick.. tick... tick...

Era quando Hannah voltava a falar, e fazia o garoto voltar o olhar para ela.

E, novamente, ele parecia bem interessado nisso.

- Ah... Imaginei que fosse ela, sendo bem sincero. Você é a mais avulsa aqui, desde que ela se foi... Tem vivido de qualquer modo, só seguindo com a vida, sem rumo algum, sem objetivos, salvo seu irmão. Você transpira tristeza, com todo respeito... E seu luto é tão forte que chega a ser palpável, não é? E nenhum deles aí... Moveram um dedo para fazer algo, não é? - Ele voltava os olhos para os outros na sala, novamente naquele tom frio e analítico.

Mas muito atento ao que você falava.

- Sim, eu os conheço melhor do que vocês mesmo. Isso não é algo improvisado, nos preparamos, e muito, para tudo isso... Mas desde o começo, sempre foi você que mais me chamou a atenção, Hannah. Eles não ligam para você ou para sua dor, só para os sentimentos deles, as pessoas que eles amam... Você e a Sofia foram as mais negligenciadas pelo grupo. Nosso plano inicial era trazê-las para nosso lado, mostrar o que uma família de verdade é capaz de fazer por você... E tentaríamos isso justamente por sabermos o quão motivador o sentimento humano, seja o amor ou o ódio, pode ser...

O barulho se intensificava.

Tick... Tick... Tick...

Junto com o som de vidro trincando. Lentamente.

- Mas você está errada, eu não fracassei. O barão retornou. Minha parte foi feita com maestria, infelizmente Mãe Brigitte não retornou, ainda... Mas o que me cabia foi feito. Eu sei o que me espera, e por isso não tenho medo, caso eu morra aqui... Mas... - Os vidros explodem.

De todas as janelas moscas e mais moscas entram com um zunindo infernal, voando pelo quarto criando uma nuvem muito, muito densa.

Era impossível enxergar mais do que um palmo a frente.

Elas entrariam pelos narizes, boca e ouvidos... Ou qualquer orifício que encontrassem.

Mas claro, não eram capazes de infligir ferimentos.

Porém, como vocês poderiam fazer algo? Falar? Agir?

Contudo, era diferente para você, Hannah, já que você estava dentro do circulo, afinal... Você o desenhou.

Nenhuma mosca conseguia atravessar o círculo.

Era como se houvesse uma barreira ali dentro, os prendendo... Enquanto do lado de fora tudo se tornava um negrume de zunido infernal.

- Eu posso te oferecer o mesmo, Hannah... E mais do que isso... - Os olhos dele reviravam nas órbitas, ficando brancos. Ele respirava fundo, de modo ruidoso... E então falava.

A voz dele era estranha.

Parecia mais... Feminina, mais aguda.

E com um sotaque australiano bem carregado, que provavelmente causaria um choque a você, Hannah.

- Depois que... Eu me fui... Meu maior arrependimento foi ter nutrido tudo o que senti pela Riley... - Ele respirava fundo, ou melhor... Ela - Depois do que você me disse no banheiro, depois que nos beijamos, encarei aquilo como um motivador para que eu me entregasse a tudo o que estava acontecendo... Sem perceber que era um pedido para que eu me entregasse a você. E-eu... - A voz oscilava, e os olhos dele voltavam a recuperar o foco. Arfando, suando... Ele dizia, com a voz normal - Podemos... Trazê-la de volta. Se você me ajudar... - Ele oferecia, erguendo os olhos para você, Hannah.

[Quem for turnar, rola um dado. Dif 9, para ter ouvido algo do que ele falou pra Hannah]

Observava calmamente a movimentação do garoto. Do fato de se encolher com receio do ataque de Lionel até o jeito que falava quando ia se dirigindo aos outros. A minha expressão, impassível... Mas a atenção era dele. Toda dele. Inclusive o fitava de volta quando recebia o golpe na mão o protegendo. A forma como ele me olhava era no mínimo intrigante o que levantava algumas suspeitas. Observava o que acontecia com os meus respingos de sangue e se tinham atingido o garoto.

Ouvia o comentário a respeito do sal e apenas abria um sorriso de canto, discreto, mas ele com sua atenção em mim poderia perceber. Mas não o impedia de responder a Brigitte. Esperava calmamente antes de fazer um gesto bem simples de pegar uma pitada de sal e lamber dos dedos além de passar os olhos novamente pelo círculo como se checasse algo. A atenção voltava pra ele. Inclusive via o olhar desviado quando Timothy falava das janelas, eu tinha avisado pra que o fizesse antes quando tinha deixado o sal na entrada, mas quem daria ouvidos pra louca, não é mesmo?

- Sim e você tem total razão em tudo que diz. Você fala sobre não ter medo de morrer, entendo bem. Não ligo pra isso, não é algo que me assusta há muito tempo. - Erguia uma mão quando ele mencionava o "com todo respeito". - Não se preocupe, não me ofendo com isso. Uma das coisas que todo aquele inferno me fez perceber é que não devo mais esconder o que sinto. Se estou triste, estou. E que seja assim.

Era como uma conversa entre amigos a qual dedicava atenção e todo o intesesse. Chegava a erguer as sobrancelhas quando mencionava o que os outros fizeram. - Sim, mais uma vez você tem razão. Meu sofrimento sempre foi ignorado por eles. Fui taxada de louca, inconsequente e que não pensou em ninguém e não tiro minha culpa em algumas coisas que aconteceram, mas precisavam de um bode espiatório pra todo o resto e a carapuça me serviu. - Dava de ombros como se fosse algo sem importância e logo voltava a fitar o garoto quando mencionavam o plano de me chamar e a Sofia.

- Deveriam ter vindo falar comigo antes, teriam poupado muito trabalho dos dois lados. - Apenas erguia sutilmente as sobrancelhas com o vidro trincando, como se fosse algo esperado. Ignorava qualquer coisa que falassem ali, seja Lionel ou qualquer outro. - Então como imaginava. O orgulho que você está sentindo faz todo sentido com o trabalho finalizado, mas aparentemente temos uma ideia diferente de fracasso.

As moscas tomavam o quarto e me assustava a princípio pelo som alto e a profusão que se espalhava, abaixava a cabeça por instinto, mas pouco depois apenas consertava a postura. Parecia curiosa com tudo, até olhava um pouco as moscas parando na barreira de sal e mais ainda quando via os olhos dele girando. Talvez isso fosse um choque se ele não tivesse mencionado a Sarah antes. Convenhamos, já estava na cara que ela seria usada pra me atingir nisso tudo.

- Por favor, garoto... A Sarah pode ter sido o meu amor, mas nunca fui o dela. - E ali ele podia sentir um pouco de ressentimento que eu não fazia questão alguma de esconder assim como também não disfarçava a dor que era ouvir sua voz, mesmo que daquela forma. - Sei que podem trazê-la de volta e é algo relativamente simples pra um ser tão poderoso quanto o Barão e a Maman Brigitte e até mesmo para um mero bokor, mas vamos conversar sobre o tal mais que você mencionou que pode me ser oferecido. Até porque... Tenho meus próprio planos, mas quero assegurar uma passagem de ida e uma de volta, pode ser? Longe de mim ficar presa novamente em algum lugar de onde não possa sair e claro, minha integridade física. - Até forçava um sorriso antes de finalizar. - E ah... Nada de mexer no meu livre harbítrio. Sei que vocês manjam desse lance, mas não tô afim de brincar disso. Agora me diga... Qual Exatamente é a proposta?

[Ouvir Hannah Dif 9]

O membro 'Simon Kurt' realizou a seguinte ação: Lançar dados

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'D10' :

Resultado : 5

Tudo parecia estar em câmera lenta, em um segundo ele estava correndo na direção do rapaz com todos a volta gritando e tentando impedi-lo e em outro via Hannah em sua frente. Encarava os olhos da garota que retribuía o olhar daquela forma. Por que ela havia tentado impedi-lo? Aquele monstro estava brincando com eles os tratando daquela forma.

Mas ai os olhos iam até o saca-rolhas e ao sangue que escorria pela mão da garota. Ele a havia atingido. Mais uma vez ele havia feito a coisa errada e machucado uma pessoa que gostava. Mais uma vez tinha feito merda.

Deixou o objeto cair das mãos a medida que os olhos novamente enchiam de lagrimas e era levado até a cama onde sentava, apoiando a cabeça com as mãos. A raiva misturava-se com o remorso e ele não sabia mais qual caminho devia seguir, não sabia a quem recorrer, tudo parecia estar nebuloso.

Não prestava atenção em nada a seu redor, sejam conversar ou ações dos outros, apenas se recolhia a sua insignificância, sentindo-se um encosto para todos aqueles que estavam a sua volta. Apenas um peso que todos carregavam.

Talvez fosse melhor deixar de existir, deixar tudo aquilo para trás, se trancar no quarto e realmente deixar que a morte o levasse.

Lionel se perdia em seus pensamentos enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto e só levantava a cabeça quando ouvia Simon gritar para se abaixarem. O que, afinal, estava acontecendo?

Era quando as janelas explodiam e ele não tinha muito tempo de fazer nada. Começou a balançar as mãos tentando afastar as moscas e, vendo a quantidade delas que já começavam a rastejar pode dentro de sua roupa e entrar em seu corpo, se jogou para trás e se enrolou nos forros de cama, esperando se proteger minimamente do que fosse aquilo.

[ouvir Hannah Dif 9]

O membro 'Lionel Kurt' realizou a seguinte ação: Lançar dados

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'D10' :

Resultado : 3

Apenas soltou Timothy porque era preciso, queria mesmo ficar abraçada com ele por mais tempo, já que percebera o quanto ele estava abalado com a situação e ela nem sabia ainda sobre o que ele acabou de passar ali com aquele maldito peão, que azucrinava o grupo do pior jeito, ressaltando os pontos negativos deles.

Mas, estava errado sobre não serem unidos.
Afinal, ajudaram ela também, e sequer a conheciam.

Não gostou nada de ter levado consigo seu primo, porém, aconteceu tudo tão depressa que não conseguiu evitar, ouvia com toda calma, sentada no chão, em frente ao rapaz, mas não próxima ao círculo formado por Hannah com o sal que elas trouxeram. Ficou longe o suficiente para conseguir projetar o corpo para trás caso fosse preciso, se ele tentasse alguma coisa.

O som esquisito começava.
Sangue vermelho e viscoso.

Ouvia Hannah conversar com o rapaz preso, Lionel foi tirado de perto deles, o som aumentava, não era um bom sinal, e aquelas falas do desgraçado ficou em sua cabeça,

"já lutaram com alguém que não tem medo de morrer?"
"eu já sei o que me aguarda do outro lado."

Ele não tem nada a perder, era um devoto que cumpriu sua missão, e agora se tornou um kamizake.

- O que é a coisa que o Barão está criando com o sangue das vítimas? - Foi o que ela perguntou, apenas isso, o tom de voz mais alto, raivoso, ela desejava saber, porque por trás de tudo aquilo havia alguma coisa pior, não há?

Hannah falava, ela conseguia ouvir?
O círculo ia interferir?

Os vidros quebravam, e as moscas vinham, atacando-os, porém, paravam no círculo, aquilo protegia Hannah que agia de forma estranha de novo e o rapaz que era motivo de parte das desgraças deles, Brigitte puxava a gola alta sob o rosto protegendo-o, e baixando o tronco em posição fetal.

Conseguiu gritar algo.

- Os extintores de incêndio! Usem fogo! - E então dobrou o corpo cobrindo toda parte que as moscas pudessem entrar.

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'D10' :

Resultado : 10

Pois é, Hannah.

Quem poderia lhe dar ouvidos e te entender?

O garoto se mantinha cabisbaixo, te ouvindo... E concordando com a cabeça, quando você dizia Que tinha desistido de esconder o que sentia.

Aprovando suas palavras.

Conforme o som das janelas começava e emitir aqueles ruídos.

- O que pode ser maior que Samedi, ruiva? - Ele perguntava, voltando o olhar brevemente para você, Brigitte.

E você seguia concordando com ele, Hannah.

Quando você o rebatia, Simon, ele chegava a rir de modo lacônico - É, claro... - Ele dizia, com um tom altamente irônico, som um sorriso torto no rosto de traços delicados.

- Pois é... Com toda universidade pegando no seu pé, não só pela Sarah, mas também pelo seu passado, era de se esperar um pouco mais de atitudes do que palavras... - Ele dava de ombros e mirava Simon com os olhos, afinal, vindo dele, era um absurdo ele falar aquilo. Você então sentenciava que deveriam ter vindo falar com ele antes, quando as janelas explodiam.

Lionel conseguia se esconder bem com as colchas.

Ao passo que Simon e os demais sofriam muito com os insetos.

E justamente o círculo que vocês haviam criado servia como proteção para ele e Hannah.

Ele revirava os olhos daquele modo e então retornava em seguida, suando.

Arfando.

Conforme você o rebatia, dando a entender que não era Sarah.

O chamando de bokor, o que o fazia erguer o olhar para você, conforme o suor gotejava da ponta dos cabelos muito negros e lisos, agora bagunçados.

Ele então respirava fundo novamente e os olhos dele reviravam novamente.

E a voz dele novamente se alterava, com aquela voz dupla.

E o sotaque australiano enfeitando cada palavra.

- Sim, não foi... Mas por pouco... Foi difícil resistir... a calcinha de vaquinha... - Ele dizia novamente, e a cabeça dele pendia para frente, conforme ele arfava mais.

Era nítido que ele estava se esforçando muito para aquilo.

Chegando a tossir.

Ele então finalmente respondia com a voz dele.

- M-me ajude a sair... E você terá a Sarah de volta... E poderá integrar nossa família e ser treinada, se quiser... Estou te oferecendo a Sarah pela minha liberdade, e uma oportunidade de ter uma família. Nada mais que isso... - Ele dizia e, de camarote, você via Tim avançado as cegas pelo lugar, em busca do extintor de incêndio na parede - Não teremos muito tempo... Qual sua resposta? - Ele perguntava, erguendo finalmente o olhar para você.

Brigitte, você era a única que conseguia compreender algumas coisas em meio aquele som infernal. O que era uma proeza sem tamanho, afinal... Deveria ser praticamente impossível ouvir algo ali.

Talvez fosse fruto dos seus ouvidos treinados de musicista.

Mas infelizmente, as palavras eram entrecortadas. A proeza de ouvir já era sem tamanho.

"Oferecer..." - voz do garoto
" nutrido... Riley.... beijamos...me entregasse a você..." - voz estranha, misturada com a do garoto e de uma garota, com um sotaque que lembrava o britânico.
" trazê-la... me ajudar" - voz do garoto
" Sarah... fui o dela... trazê-la de volta...me ser oferecido...meus planos... ficar presa... proposta?" - voz da Hannah.
"resistir... vaquinha - voz estranha
"ajude.. família...oferecendo... liberdade... nada mais...resposta" - voz do garoto, muito ofegante.

Tim então acionava o extintor, e o enxame parecia lutar com ele.

Mas você, tinha, via que as moscas pareciam se transformar em fumaça, pouco a pouco.

Uma fumaça negra que se dissipava em meio as outras moscas, aos poucos.

Olhava pro Simon com tamanho sarcasmo e espanto que era difícil de disfarçar, não que eu também tivesse tentado fazer isso. - Isso vindo justamente de você, Simon? Ou... Senhor Kurt... Como constantemente insistia pra ser chamado. Afinal, nós... Meros mortais não tínhamos o direito de chamá-lo pelo nome, mesmo que estivessemos arriscando nossas bundas pra salvar sua pele e a do seu irmão.

Bufava e continuava com um tom frio. - Confie e acredite em mim, Senhor Kurt... - Pronunciava lentamente o nome dele daquela forma e então estreitava os olhos o fitando. - União e se importar com os outros era o que menos existia nesse grupo. Cada um sempre lutou pela própria vida ou por seus próprios planos. - E aqui dava uma piscadinha. Estava errada? Não... E ele sabia exatamente que era dele que eu falava. Todo mundo tinha sempre seus próprios planos.

A mão saudável tocava de leve no machucado, talvez tentando entender a extensão e gravidade da coisa, mas logo desistia em meio a uma careta. - O passado sempre nos precede, fazer o que, mas eu tive os dois. Palavras e atitudes. Fui amarrada, amordaçada, escurraçada. Diversas vezes. Até hoje não confiam totalmente e mim e talvez tenham razão afinal.

A atenção de volta ao garoto e em seguida tentava me proteger dos cacos e moscas que não vinham em minha direção.

Os olhos percorriam o quarto e as moscas. Vendo pouco devido a quantidade, mas observava e tentava discernir o que os outros estavam fazendo ao mesmo tempo em que o garoto começava a suar e se esforçar daquele jeito principalmente depois de o ter chamado de bokor.

Ouvir a voz de Sarah, mesmo que misturada a tudo aquilo e daquela forma... Era doloroso. E não escondia que ainda me doía, mas balançava negativamente a cabeça. - Insiste em me propor algo que sei que é impossível. - Olhava em volta vendo que de fato não tinha muito tempo e quando o respondia o fitava muito séria. Na mão boa já um canivete tirado de dentro do cinto de utilidades. - Me leve até o Barão.

Dizia e começava a cortar as amarras que o prendia na cadeira, ouvia o som do extintor abafado pelas moscas que começavam a ser destruídas ou se uniam pra contra atacar quem quer que estivesse fazendo aquilo. Apressava-me como podia tendo apenas uma mão boa pra conseguir soltá-lo.

Eu não queria soltar a Brigitte do abraço. Acabava segurando um pouco mais. Era um alento no meio de tanto frio. Meu corpo se recusava a não tremer e a deixar de sentir medo, mas o que eu podia fazer? Agora tinha que ser forte. Por mim e por ela.

Ajudava no que era preciso e começava a prestar atenção na conversa da Hannah com o garoto. Não parecia algo normal o rumo que as coisas estavam tomando e por isso preferia me manter por perto da Bri. Vai que dá merda, não é? De tudo que tá acontecendo preferia prevenir o que desse.

Se esse pivete conseguisse estender a mão na direção da Bri ou de alguém ali eu daria jeito de quebrar o braço dele e foda-se.

Essas entidades que eles falvam, as crenças, mitos... O que porra era isso? Parecia que eu tava assistindo um filme. Os olhos iam na direção de quem estava falando, inclusive o Simon que intervia algumas vezes. Lionel já parecia destroçado. Pobre garoto... Nem conseguia imaginar o que tinha passado.

Os estalos me alertavam, olhava em volta, mas não via nada acontecendo. Parecia tudo tranquilo, mas o barulho não parava até que por fim as janelas explodiam e aquele mundaréu de mosca começava a atacar.

- MAS QUE PORRA?? - Gritava enquanto os braços se agitavam tentando espantar as miseráveis do rosto.

Puxava a camisa sobre o nariz, a boca e as orelhas fazendo um capuz digno de uma rebelião no presídio. Via Lionel se enroscando nos lençois e puxava outro pra jogar por cima da Bri, mas era impossível chegar até ela sem ser consumido pelas moscas.

A única coisa que vinha a mente era o extintor. Andava sacodindo os braços mais que boneco de posto pra todo lado até chegar lá no extintor e acionar com facilidade depois de tirar a trava.

Olhava as moscas vindo na minha direção e que os outros me perdoassem, mas eu girava o jato pra todo lado pra tentar tirar elas de perto de mim.

- Vocês matam para trazer ele e Brigitte de volta, e ele está usando suas mortes para trazer algo que nem Vocês sabem o que é... Idiota. - Idiota porque sacrificou a droga da alma para ajudar um Deus que talvez sequer lhe dê algum benefício depois. Idiota porque com todo aquele pode ainda assim conseguiu ser pego. Idiota porque era tão sem importância que seu nome sequer foi ligado a algum dos amigos.

Queria falar o que estava ouvindo mas ali cada qual tentava se proteger das moscas.

Ela mesma tinha enfiado a cabeça dentro da blusa e fechado a gola, mantinha o corpo em pose fetal perto do círculo.

Brigitte estava no chão com a bolsa dada por Hannah contendo alguns apetrechos.

Ouvia as coisas entre cortadas.

Que inferno o que aqueles bucha de canhão queriam? Não ganhariam nada! Iam morrer por nada, ah claro iam morrer para servir seu mestre.

Desgraçados.  

Brigitte mesmo em meio ao enxame de moscas tentou se manter perto do circulo para ouvir o que Hanna falava com o outro.

Ela entrou para se proteger?
Se foi isso porque falava tanto com o outro?

Claro que não entrou para se proteger, afinal estar perto do rapaz era perigoso e tanto Simon quanto Tim avisaram isso de forma clara.

Riley e Sarah eram nomes escritos no memorial de pedra mármore no jardim da ZBZ.

Elas morreram ano passado, e Brigitte ouviu resquícios das conversas deles de algo ruim ter acontecido no passado envolvendo elas junto do grupo atual.

Ela ia voltar?
O rapaz falava com sua voz normal, com a voz de uma garota e voltava a ter a sua.

Deuses... Não enlouqueceu ainda apesar do zumbido e de sentir aqueles insetos nojentos percorrendo seus cabelos.

A tal Sarah ia voltar? Diabo. Se alguém morreu não pode voltar. Nada voltar como era. Isso é uma lei universal.  Aliás, nada volta. Não podia pensar em Ethan e Madison agora desse jeito.

Ia se arrastando pelo chão, conseguia ver o caminho através do tecido da blusa de lã.

Dar a volta, estar atrás deles.

Mas, o modo como o rapaz falava era sombrio.

"Ajude, família, liberdade,  oferecer, trazer de volta, e por fim ouvia Hannan falar alto para levá-la até o Barão."

Mas, que porra.

Não vai não, desgraçada.

Sentia as moscas diminuírem, ouvia eles negociando algo.

Brigitte queria achar dentro da bolsa o teaser ou um bastão curto que pudesse usar contra o rapaz, já era hora de apagar ele.

Fizeram ela matar alguém sem querer.

Contra sua vontade.

Causar dor e apagar aquele desgraçado ia ser de menos.

Diferença 7

O membro 'Sofia Ortega' realizou a seguinte ação: Lançar dados

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'D10' :

Resultado : 6